segunda-feira, 28 de abril de 2008

TEMPO

Este é um texto da Ivânia

Ainda não consegui convencê-la a tornar-se uma escritora oficial deste blog, mas surrupiei um texto escrito numa folha solta, digitei-o, e mando aos amigos (com a permissão dela). Ela tem alguns outros, mas ainda não prontos.

O tempo é quase perfeito quando se sabe o que fazer com ele. Porém, às vezes, é o tempo que brinca de fazer da gente personagens anônimos de histórias deixadas para trás, contadas por vovós em cadeiras de balanço, sorrindo, expressando toda a força que tem o tempo em nossas vidas.

Penso que se pudéssemos guardar o tempo em uma caixa de segredos, aberta somente quando quiséssemos, de nada adiantaria, pois ainda estaríamos sob a ação do tempo.

Poiss todo o tempo que temos é aquele no qual estamos fazendo alguma coisa, então quanto mais tempo gastar fazendo alguma coisa, mais tempo eu terei.

MEDINDO O UNIVERSO II

PARALAXE

No primeiro artigo desta série, mostramos que os astrônomos devem necessariamente obter as informações dos objetos de seu estudo através das radiações emitidas diretamente por eles (ou algo próximo ou atrás deles). Queremos dizer sobre aquilo que existe fora do nosso pequeno sistema solar. Os objetos em órbita do sol estão tão próximos (no máximo, algumas horas-luz), que podem ser alcançados diretamente por sondas espaciais, que pela sua grande velocidade, os alcançam em poucos anos, e transmitem uma grande quantidade de informações à Terra.

Falaremos neste artigo sobre a medição direta de distâncias, pelo método da paralaxe. Não é um assunto difícil, pelo contrário, faz parte do cotidiano de toda pessoa que enxerga normalmente, e não entrarei em detalhes matemáticos. O leitor certamente já reparou que ao focar objetos distantes, qualquer objeto próximo que esteja na frente fica com a imagem duplicada. Possivelmente o leitor já reparou que o efeito é tão menos pronunciado quando mais longe estiver este objeto próximo. Colocando um dedo próximo aos olhos e focando algo mais longe, o leitor reparará que ao afasta-lo, a distância entre as imagem duplicadas diminui (mas não de forma constante). Quando o objeto mais próximo está suficientemente longe, a distância entre as duas imagens é tão pequena que já parece uma imagem só. Deve ser evidente ao leitor que o efeito é causado pelo fato de termos dois olhos e não ocorre quando fechamos um deles. Pois bem, este efeito se chama paralaxe, e a distância angular entre as imagens guarda uma relação matemática precisa com a distância do objeto em primeiro plano e com a distância entre os receptores de imagem (nossos olhos). Um sistema óptico qualquer que tenha dois receptores de imagens permite, por tal relação matemática, o cálculo da distancia do objeto em primeiro plano, sendo previamente conhecidos a distância entre os receptores e o ângulo entre as imagens do objeto próximo. É importante que maiores distâncias entre os receptores acarretam maiores (mais mensuráveis) paralaxes. Se meu sistema de medição de distâncias estiver operando no limite de sua capacidade (margem de erro muito próxima da medida do angulo), posso aumenta-la pelo aumento da distância entre os receptores. Se o sistema for computadorizado, melhor ainda, pois poderá fornecer instantaneamente a distância de todos os objetos próximos que aparecem na imagem. Maiores informações sobre o assunto, em forma bastante didática, podem ser encontrados em: http://astro.if.ufrgs.br/dist/ .


HISTÓRIA DA PARALAXE NA ASTRONOMIA

Anteriormente a Galileu, os europeus consideravam a Terra uma esfera fixa no centro do Universo, em torno da qual vários corpos faziam órbitas complexas, cercados por uma superfície dura cravada de luzes, que seriam as estrelas, consideradas “fixas”. Quando Galileu propôs que as “estrelas fixas” não eram tão fixas assim, e que se distribuíam aleatoriamente pelo espaço, e não por uma superfície, seus opositores argumentaram (corretamente) que ele ficava devendo uma explicação para a ausência de paralaxe das estrelas mais próximas, contra o fundo das mais distantes. Galileu argumentou que as distâncias das mais próximas eram tão grandes que impediam a medição dos ângulos de suas paralaxes (com o instrumental da época). Hoje sabemos que sua explicação é correta, mas na época, a idéia de distâncias assim tão grandes deve ter parecido irreal a todos (inclusive a Galileu). Qual a máxima distância para a qual a paralaxe é mensurável? Para responder tal pergunta, é preciso saber qual a máxima distância entre os receptores. Séculos atrás, os astrônomos já haviam percebido que a máxima distância entre seus telescópios era de aproximadamente 300 milhões de quilômetros (diâmetro da órbita da terra, para o qual se obtém a chamada paralaxe heliocêntrica, cuja segunda medição só pode ser realizada, é claro, depois decorridos seis meses, quando a terra está à máxima distancia da sua posição na primeira medição). A primeira medição correta de paralaxe estelar foi a da estrela 61 Cygni, feita por Bessel, no século 19. Hoje somos capazes de medir, com boa precisão, a distância de estrelas a até algumas centenas de anos-luz da terra, que apresentam paralaxes na ordem de milisegundos de grau. Considerando que cada ano-luz corresponde a aproximadamente 9,46 trilhões de quilômetros, isto pode parecer bastante, mas é uma pequena fração do diâmetro de nossa galáxia, a Via-Láctea, de mais de 80.000 anos-luz. O leitor deve estar se perguntando como se medem distâncias de objetos que não apresentam paralaxe mensurável. Não se medem, estimam-se, e é isto que veremos no próximo artigo da série

A NAVALHA DE OCCAM

Um dos princípios básicos do método científico é a chamada Navalha de Occam, um critério, proposto explicitamente pela primeira vez, ao que se saiba, pelo pensador escolástico William de Occam (ou Ockham). Originalmente, consiste em evitar premissas não demonstráveis que não sejam estritamente necessárias à explicação de determinado fenômeno. Numa formulação mais geral, manda preferir sempre a explicação ou descrição mais simples possível para qualquer fenômeno. Por conta de tal critério, mesmo antes dele ser explicitado, a Terra foi considerada esférica quando se descobriu que ela se curvava para todos os lados (embora outras formas curvas mais complexas pudessem ser consideradas). Na verdade, um elipsóide de revolução é uma aproximação mais correta do formato da Terra do que uma esfera. Na astronomia, julgava-se verídica a interpretação mais simples do movimento aparente do sol, isto é, que ele gira em torno da Terra e posteriormente, as órbitas dos planetas foram consideradas circulares, uma forma mais simples que a elipse. Finalmente, desde Newton até o início do século XX, a simplicidade da física clássica era considerada a perfeita descrição da matéria e energia, mas então, por conta de incongruências entre teoria e fenômeno, vieram a física quântica, revisitando a questão da continuidade do espaço, e a física relativística, revisitando a questão da sua regularidade e trazendo uma nova visão sobre a natureza do tempo.

Mas antes de ser um critério das ciências naturais, a Navalha de Occam já era um critério do bom senso. Ao procurar uma coisa, busca-se primeiro nos lugares mais acessíveis, ao tentar descobrir o defeito de algo, começa-se com as possibilidades mais simples. Um outro motivo para se começar pelo mais simples, é que numa busca indexada, é mais fácil guardar a memória do que já se tentou, quando já se tentaram as coisa óbvias, rápidas e fáceis. É um critério de economia de tempo e trabalho, e portanto, de dinheiro. Mas, diferentemente do que alguns leigos supõem, não é um critério de veracidade. Nos quatro casos acima, a explicação mais simples não era a mais correta, e freqüentemente é assim que acontece, Mas, por terem adotado a explicação mais simples, os estudiosos do assunto contribuíram para que, posteriormente, uma explicação mais correta fosse encontrada, visto que a percepção das discrepâncias, da realidade em relação à teoria, se tornou mais fácil. O poder de economizar trabalho e tempo, aliado à sedução mental que uma explicação simples e completa traz, fazem com que, até mesmo quando são percebidas tais discrepâncias, muitas vezes elas sejam tomadas como irrelevantes, sinais de algum outro fenômeno paralelo, que não afetam realmente o cerne da teoria.

Mas o bom senso da Navalha de Occam, e outros critérios do método científico, se aplicam tão bem a toda a vida humana, como se aplicam ao estudo científico? Na verdade, o método científico em geral, e a Navalha de Occam em particular, não garantem nem que a tese adotada seja a mais provável, nem se trata disto. O critério de Occam revelou-se útil para a construção a longo prazo de um certo tipo de conhecimento (o das ciências naturais), o que não precisa ser igual à maior probabilidade de acerto imediato de um cientista em particular. Participar de um projeto de construção de conhecimento a longo prazo nos leva às mesmas opções que a busca de uma solução que deve ter um número limitado de tentativas? Quando uma busca tem necessariamente de ser limitada, você seguiria a mesma ordem que numa busca indexada para fins científicos? E se você tiver uma chance só? Você tentaria um tratamento que tem 80% de chance de mata-lo, caso ele fosse a única alternativa a uma morte certa e rápida por uma doença fulminante? Você creria numa explicação mais complexa para um fato não acessível à verificação (e sobre o qual precisasse tomar uma decisão), se esta fosse a que parecesse mais verossímil? Você deixaria que uma impressão indefinida influenciasse a sua escolha de um subordinado, ou de um sócio? Muitos cientistas fariam estas coisas, embora não haja nisso nada de método científico.

A vida não é vivida pelo chamado método científico, nem pode se-la. Quem está vivo, está por ter seguido seus instintos muitas vezes, desde antes de nascer. Muitas vezes você tomou a decisão correta por intuição, ou por algum impulso inexplicável, ou por pensamento analógico absolutamente não confiável, ou pelo uso da dialética, as vezes de forma bastante incompleta, ou por deduções que podem ser bastante lógicas, mas não são nada científicas, pois você não teria meios de verifica-las. Às vezes, você simplesmente “sentiu” que algo iria falhar (ou dar certo). O ser humano está neste mundo desde muito antes da criação do método científico, e teve muito sucesso sem ele, um instrumento recente do pensamento (baseado em princípios antigos), que veio se juntar a muitos outros instrumentos de nossa mente (e espírito).

domingo, 27 de abril de 2008

DESCULPAS

Peço desculpas a todos os amigos frequentadores deste blog. Tenho postado pouco e respondido pouco aos comentários (alguns tem ficado tempo demais esperando pela moderação). Ultimamente, entro pouco nos blogs dos colegas, e dificilmente deixo comentários. Não vou prometer melhorar, pois isso não vai mudar antes de um mês ou dois. Mas tenho a firme intenção de aumentar a minha atividade "blogística" depois de passada essa fase.

domingo, 20 de abril de 2008

O QUE É O SER HUMANO?

A discussão sobre o uso de embriões em pesquisas de células tronco renovou a antiga questão da essência do ser humano. Mesmo um católico praticante como Reinaldo de Azevedo dobrou-se ao argumento usado pelos partidários do sim. Não poderia ser de outra forma, pois a tradição católica, firmemente fundada na filosofia grega, vê a essência do homem na razão. Dentro dessa visão, a ausência de tecido nervoso seria suficiente para descaracterizar o embrião em formação como um ser humano. Talvez o leitor habitual deste blog já tenha percebido que prefiro ver os verdadeiros fundamentos da fé cristã na tradição teológica judaica, como na verdade é. Isto me dá um pouco mais de distanciamento da visão grega, e a possibilidade de questionar leituras exageradamente gregas da Bíblia.

Há uma antiga discussão teológica cristã entre os que crêem na dicotomia (homem composto de corpo e alma) e aqueles que crêem na tricotomia (homem composto de corpo, alma e espírito). Antes que surja algum chato dizendo “creio no homem integral”, digo que qualquer pessoa razoável sabe que o homem funciona como um todo, e que tudo que afeta parte do homem afeta (potencialmente) sua inteireza. Mas o leitor há de convir que, se o homem é integral, o corpo humano é integral. Mas quem estuda o corpo humano separa esse corpo que funciona por inteiro em uma infinidade de partes, para melhor compreende-lo, e não creio que o leitor confiaria em um médico que não soubesse distinguir o coração do fígado.

Mas voltando ao assunto, desde os primórdios da história cristã há essa discussão, com alguns entendendo que há diferença entre alma e espírito e outros igualando-os (e há outros ainda que identificam o espírito com parte daquilo que chamamos psiquê, separando emoções e razão). Eu particularmente sou tricotomista, como a maioria dos petencostais. Como cheguei a essa posição? Pela compreensão lógica de que a fé cristã o exige e por pensar a respeito dos textos bíblicos que se referem ao assunto. É claro que muita gente muito mais inteligente e instruída que esse leigo aqui discordará de mim (aceito correções onde me mostrarem erro). E muita gente tão inteligente e instruída como esses, concordará comigo. Vou colocar inicialmente alguns textos bíblicos que tocam o assunto e expressar minha compreensão sobre o sentido de espirito no NT (Almeida revista e atualizada, para quem quiser conferir).



E havia entre os fariseus um homem, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. Este foi ter de noite com Jesus, e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele.

Jesus respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.

Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?

Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo. O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

Nicodemos respondeu, e disse-lhe: Como pode ser isso?

Jesus respondeu, e disse-lhe: Tu és mestre de Israel, e não sabes isto? Na verdade, na verdade te digo que nós dizemos o que sabemos, e testificamos o que vimos; e não aceitais o nosso testemunho. Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais? Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu. E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; Para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele. Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus. E a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal odeia a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus.” (Evangelho segundo João, Capítulo 3, até o verso 21).

Portanto, eu vos digo: Todo o pecado e blasfêmia se perdoará aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.” (Mateus 12:31).

Disse-lhes ele: Como é então que Davi, em espírito, lhe chama Senhor, dizendo:” (Mateus 22:43).

Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Mateus 26:41).

E, logo que saiu da água, viu os céus abertos, e o Espírito, que como pomba descia sobre ele.” (Marcos 1:10)

Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” (Romanos 8: 5 e 6)

Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.” (Romanos 8:9).

A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder;” (1ª aos Coríntios 2:4).

Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus. Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais. Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.” (1ª aos Coríntios 2:10 a 14).

Eu, na verdade, ainda que ausente no corpo, mas presente no espírito, já determinei, como se estivesse presente, que o que tal ato praticou, em nome de nosso SENHOR Jesus Cristo, juntos vós e o meu espírito, pelo poder de nosso Senhor Jesus Cristo, seja entregue a Satanás para destruição da carne, para que o espírito seja salvo no dia do SENHOR Jesus.” (1ª aos Coríntios 5:3 a 5).

Porque, se eu orar em língua desconhecida, o meu espírito ora bem, mas o meu entendimento fica sem fruto. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento; cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento “ (1ª aos Coríntios 14:14 e 15).

Folgo, porém, com a vinda de Estéfanas, de Fortunato e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte me faltava. 18 Porque recrearam o meu espírito e o vosso. Reconhecei, pois, aos tais.” (1ª aos Coríntios 16:17 e 18).

'Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus, o qual nos fez também capazes de ser ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória, como não será de maior glória o ministério do Espírito? Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça.” (2ª aos Coríntios 3:5 a 9).

'Ora, o Senhor é Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade. Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” (2ª aos Coríntios 3:17 e 18).

'Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.” (Hebreus 4:12).

Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.” (Tiago 2:26).

E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso SENHOR Jesus Cristo.” (1ª aos Tessalonicenses 5:23).



DEFESA DA TRICOTOMIA

A palavra grega normalmente traduzida por espírito (em suas diversas acepções) é pneuma (vento, ar). E alma normalmente traduz a palavra psiquê. Cremos que traduzem conceitos diferentes, e como a maioria dos petencostais, começarei a defesa da hipótese tricotomista pelo texto de 1ª Tessalonicenses 5:23, visto acima, que leva, prima facie, à distinção entre alma e espírito, como dois entes distintos. Um dicotomista poderá argumentar com sucesso que a citação da distinção entre corpo, alma e espírito é feita de passagem, sem maiores explicações, podendo ser apenas uma figura da totalidade do homem. Respondo que o argumento é bom e, caso não haja outros textos a confirmar essa impressão, deveremos considerar a hipótese infundada. Bom, logo encontramos Hebreus 4:12, que novamente distingue espírito e alma, e dá a clara impressão de que são elementos que precisam ser diferenciadas pelo crente.

Mas vejamos a forma como a Bíblia trata o Espírito divino. É dito que Deus é Espírito (e NÃO é dito que é alma). A interpretação mais óbvia de “Deus é Espírito”, parece ser que Deus é essencialmente Espírito. Mais ainda, é dito que o pecado contra o Espírito Santo ( a “Ruach“) é sem perdão (eternamente) em oposição ao pecado contra o Pai o contra o seu Filho (Sua palavra encarnada). Isto é espantoso, e confirma na minha convicção a percepção de que Deus é essencialmente Espírito. Também é dito da Ruach que ela é livre. Nela há tal liberdade que ele é imprevisível como o vento, conforme Yeshua explicou a Nicodemos (Evangelho segundo João, capítulo 3).

Falei sobre o Espírito divino por que a Bíblia o compara ao espírito humano, (1ª carta aos Coríntios, capítulo 2). Um ponto que me chama a atenção é que ninguém considera o seu próprio espírito como outra pessoa diferente de si mesmo, embora seja certo atribuir pessoalidade ao espírito humano. Da mesma forma, é estranho considerar o Espírito Santo como outro em relação ao Pai (ou ao Filho), embora se possa atribuir pessoalidade a cada um deles, sem prejuízo de se atribuir pessoalidade a Deus que é um. Mas, voltando ao assunto, é atribuída ao espírito humano a capacidade de saber todas as coisas a respeito do próprio homem. Seria o espírito igual à compreensão humana (intelecção)? De modo algum, pois em 1 aos Coríntios, capítulo 14, o apóstolo Paulo opõe claramente o espírito ao entendimento, e recomenda que se ore com ambos!! Então seria, o espírito humano, a capacidade de sentir, as emoções humanas? Não posso crer nisso, pois a Bíblia associa as paixões humanas à carne, em oposição ao espírito. Mas talvez sejam apenas os sentimentos superiores, aqueles que nos elevam? Estranha conclusão esta, parte do sentir humano seria “carne” e parte “espirito”. Esta conclusão se sustenta? Não creio. Freqüento a igreja cristã há muitos anos e já vi pessoas de vida totalmente desregrada ou personalidade doentia mudarem totalmente após crerem no Cristo. Mas pessoas de personalidade equilibrada pouco mudam, em termos de “bons sentimentos” ao crerem no Cristo. Simplesmente não se pode perceber qualquer diferença marcante, em termos de sentimentos, entre um bom seguidor de Cristo e uma pessoa boa qualquer. Tomando duas pessoas quaisquer, e personalidade passavelmente equilibrada, uma crente e outra não, a personalidade de ambas parecem igualmente completas.

Mas deixemos de procurar o espírito humano, naquilo que dizem ser a personalidade humana, e passemos a ler com menos preconceitos o que a Bíblia diz sobre ele. O espírito tem percepção? Que é a fé, senão uma percepção espiritual? O espírito tem sentimentos? Não se alegrou Paulo em espírito? O espírito tem conhecimento e inteligência? É claro que sim, pois a Bíblia afirma que o Espirito Santo testifica com o NOSSO espirito que somos filhos do Eterno, e que nós discernimos espiritualmente todas as coisas. Na mesma ocasião em que Jesus ensinou Nicodemos, a respeito da liberdade do Espírito do Santo de Israel, disse também que aquele que é nascido do Espírito adquire esta mesma liberdade. Isto faz pensar se não é por isso que a Bíblia declara aos homens “sois deuses”, e também se não é por isso que o Pai julgou conveniente que seu filho morresse para que fôssemos um com ele. Fazer com que existam seres com tal liberdade, isso parece um projeto digno do esforço divino.

O que o apóstolo Paulo escreveu na 1ª carta aos Coríntios, capítulo 5 (versos 3 a 5), dá a nítida impressão de que o espírito humano pode ser capaz de atuar no mundo espiritual, causando mudanças reais sobre a vida das pessoas. Alguém poderá dizer que “estar presente em espírito” é apenas uma figura de linguagem. Um episódio interessante para esclarecer tal questão, é o narrado no 2º Livro dos Reis, capítulo 5. Ninguém poderá supor aí alguma figura de linguagem quando o profeta Eliseu pergunta a Geazi “porventura não foi contigo o meu espirito?”.

As palavras alma e espírito não são intercambiáveis na Bíblia. Se referissem ao mesmo objeto, deveriam existir o adjetivo “almico” (pu psíquico) e o advérbio “almicamente” (ou psiquicamente), usados de forma indiferenciável de “espiritual” e “espiritualmente” (o substantivo “psiquê”, derivado da palavra grega traduzida por alma, forma o adjetivo “psíquico” e o advérbio “psiquicamente”). Mas as coisas relativas ao espírito, nunca são “psíquicas”, sempre são “espirituais”e o adverbio correspondente é sempre “espiritualmente”, nunca “psiquicamente”. Ao espírito recriado do homem, são atribuídas capacidades que nunca poderiam ser atribuídas à mente humana, como discernir tudo sem ser discernido por ninguém. Mais ainda, como explicar as capacidades de conhecimento prévio e conhecimento a distância, de muitas pessoas, erradamente chamados de capacidades psíquicas pelos espíritas? Não são processos para os quais se conheçam quaisquer explicações físicas, e atribui-los à mente humana (um processo físico do cérebro) não deixa-nos mais próximos de uma explicação razoável. As pessoas chamadas espirituais não são necessariamente as mais inteligentes, nem as de sentimentos mais intensos, nem as de vontade mais férrea, sendo a inteligencia, sentimentos e vontade as principais funções que atribuímos à psiquê humana. Pelo contrário, as pessoas verdadeiramente espirituais são aquelas com maior discernimento de uma realidade paralela e anterior à nossa, que é a realidade dos seres espirituais . Finalmente, caso acreditássemos que o espírito humano é outro nome para a personalidade humana, então o que seria a “carne”, que necessariamente é algo dentro da nossa personalidade?

Caso acreditássemos que o espirito humano é simplesmente outro nome para a personalidade humana, ou de parte dela, teríamos de crer que um evento tão fortuito como um ferimento na cabeça tem poder sobre o espírito, pois as ciências biológicas mostram à exaustão que a personalidade humana é gravemente afetada pelo estado de saúde, traumas físicos ou mentais e substâncias químicas diversas. A se crer na igualdade entre psiquê e espírito, devemos concluir que o espirito é um processo físico, pois os processos de nossa mente (pensamentos, emoções e vontade) acontecem fisicamente. Da mesma forma, quem crê que a capacidade de raciocínio é que define a humanidade de um ser, deveria concluir que uma pessoa com uma doença grave, cuja mente funciona de forma bastante limitada, se tornou bastante menos humana (por igual raciocínio, crianças e velhos seriam menos humanos que jovens e adultos). Dentro deste tipo de raciocínio, teríamos de admitir como aceitáveis as práticas dos nazistas, que consideravam as pessoas com debilidade mental como descartáveis.

No mesmo sentido, a diferença entre o ser humano e os animais (ou alguma máquina extremamente avançada que venha a existir) não é tão marcante assim, se considerarmos apenas os processos mentais. Alguns animais superiores são inteligentes, capazes de linguagem, apego sentimental e de aprendizagem. O único processo mental marcante que lhes é impossível é o pensamento simbólico avançado. Será apenas isso o suficiente para distinguir o ser humano dos animais superiores? Será isso o suficiente para considerar o ser humano como responsável moralmente por seus atos, e os animais como totalmente irresponsáveis? Será isso o suficiente para o homem (qualquer ser humano, em qualquer situação) como tenha uma alma imortal, em diferenciação de todos os animais, mesmo os mais inteligentes e sensíveis?

Mas se os processos mentais ocorrem fisicamente, cessam na morte, e diminuem perto da morte. É claramente incoerente crer que tudo que há numa pessoa são processos mentais e crer na imortalidade da alma e na sacralidade da vida humana. Mas se existe algo não físico (nem matéria, nem energia, mas algo de existência mais fundamental) e incognoscível (pois não faz parte deste “universo” físico) no homem, pode fazer sentido o porque de sua vida ser sagrada e como sua psiquê sobrevive à morte do corpo. Na primeira carta aos coríntios, lemos “Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está?”. O espírito humano, que é imortal por natureza, e que conhece tudo sobre a alma (processos mentais que ocorrem na mente), retém a personalidade (alma) humana para além da morte. Também usando tal conceito, podemos entender o que é a morte, definida por Tiago como a separação entre espirito e corpo. Isso explica também como podem existir outros espíritos que jamais tiveram corpo físico. Talvez seja mais que uma coincidência que só tais seres, que não deixam de existir pela cessação dos processo físicos, é que respondem moralmente por seus atos.

Mas essa diferenciação entre mente e espirito seria mais difícil para os gregos antigos, que não tinham como saber sobre o fundamento físico dos processos mentais Mas a Bíblia, sendo um livro revelado, contém essa diferenciação embutida nos seus textos, os quais jamais confundem essas duas coisas que, apesar de funcionarem de forma tão conjunta, são distintas.

Esta é uma explicação bastante resumida e incompleta, e talvez um pouco desorganizada ainda, dos motivos por que vejo a mente (alma) como um nível intermediário entre o espírito humano e o corpo, influenciada por ambos. Isto faz do homem um ser único, que vive ao mesmo tempo duas realidades.


Continuo outro dia.

MEDINDO O UNIVERSO I

Talvez o leitor já tenha se perguntado sobre como os astrônomos medem as distancias entre estrelas, galáxias, suas dimensões e até mesmo o universo. Considerando que são medidas de coisas que não estão acessíveis diretamente aos cientistas, o leitor deve estar imaginando alguma forma de medida à distância através da luz visível e outras ondas. Alguém sugerirá ondas de rádio, microondas, ultravioleta, raios-x, raios-gama, etc, que são todas ondas eletromagnéticas, como a luz, sendo diferentes apenas na freqüência. Os físicos costumam chamar de luz, a todas as ondas que tem a mesma natureza que ela (as ondas eletromagnéticas) e chamam de “luz visível” a estreita faixa de freqüências que são captáveis pelo olho humano, um aparelho receptor de ondas eletromagnéticas (antena) bastantes limitado, até porque extremamente pequeno (em captação de ondas, tamanho é documento).

Se o leitor está pensando em alguma espécie de radar, esqueça, não será útil na astronomia. O radar envia ondas, que são refletidas de volta e captadas por um receptor. Conhecido o tempo de retorno e a velocidade da onda, é fácil calcular a distância do objeto, e normalmente os sistemas de radar contém módulos eletrônicos que apresentam essa informação de forma gráfica, para rápida apreensão do operador. Outra informação que pode ser obtida diretamente da onda refletida é a velocidade (apenas na direção da linha imaginária que passa pelo radar e pelo objeto investigado), tanto de afastamento como de aproximação, informação obtida pela variação da freqüência (efeito dopler). O problema com o uso do radar na medição de distâncias e velocidades astronômicas é a distância excessiva. Dentro do sistema solar, as distâncias são da ordem de minutos-luz a horas-luz, isto é a luz (e as ondas de rádio), à velocidade de aproximadamente 300.000km/segundo, demora de alguns minutos a algumas horas para atingir qualquer um dos outros planetas. Quanto às estrelas, as mais próximas estão a alguns anos-luz de distância e a imensa maioria (dentro de nossa galáxia) está a muitos milhares de anos-luz (com exceção do sol, que está apenas a pouco mais de 8 minutos-luz). Ninguém imagina que os astrônomos utilizarão radares que só fornecerão informações muitos (geralmente milhares) de anos depois de começarem a operar. Mas o tempo de retorno não é o único problema. Se uma fonte de ondas emite igualmente em todas as direções, a potencia (energia/tempo), que atravessa uma determinada área, decairá de acordo com o quadrado da distância (distância x distância). Se a distância entre o radar e o objeto investigado for muito grande, este receberá uma fração infinitesimal da energia emitida, e o receptor do radar receberá uma fração infinitesimal desta fração infinitesimal. O leitor já pode perceber que não podemos nem sonhar em controlar fontes de energia tão potentes a ponto de construirmos radares capazes de medir distâncias interestelares. Para se ter uma idéia, estrelas anãs-marrons não podem ser observadas diretamente, por sua excessiva fraqueza de emissão, mesmo as mais próximas. Entretanto, elas próprias emitem uma quantidade de energia imensamente maior do que tudo que a humanidade poderia sonhar em dominar. E mesmo que dispuséssemos (em uma hipótese absurda) de fontes de energia tão fortes a ponto de obter um reflexo captável de um objeto frio a distância estelares, isto em nada adiantaria no que tange às estrelas, que emitem quantidades imensas de energia em toda faixa de freqüências, ocultando qualquer energia que refletisse nelas.

Mas, espere aí! Muitos objetos estudados pelos astrônomos emitem energia com potencia suficiente para ser captada por nós, ou influenciam de alguma forma algum objeto que emite energia, ou interfere de alguma forma na transmissão dessa energia até nós. Portanto, não precisamos emitir energia até eles, para captar o reflexo, basta captar a energia que eles próprios transmitem. Mas será que essa energia trás toda a informação que obteríamos por meio de um radar? Há três informações principais que podem ser obtidas direta ou indiretamente. Distância, velocidade e características do objeto. Veremos mais sobre isto num artigo próximo.

domingo, 13 de abril de 2008

CULTO AO CRIADOR

Quando Yeshua (Jesus) conversou com a mulher samaritana, esta lhe questionou a respeito do local onde se deveria prestar culto ao Eterno, visto que os judeus o faziam em Jerusalém e os samaritanos em Samaria. Historicamente, quem estavam certos eram os judeus. Todo o povo de Israel, na época do reino unido, ia a Jerusalém para adorar ao Criador dos céus e da terra. Quando houve a secessão, Jeroboão, rei do norte (Israel), temendo a reunião de Israel e Judá, inventou um outro culto, com imagens de bois, para evitar a ida das tribos do norte para Jerusalém, três vezes ao ano. Foi uma desgraça para o próprio Jeroboão pois, como profetizou Aías, por causa disso morreriam todos os seus filhos. Efetivamente seu filho assumiu o reino após a sua morte, mas uma revolta interna causou a morte de toda a família, vindo o reino a ser governado por outros. Séculos mais tarde, depois da deportação das tribos norte-israelitas para a Assíria, muitas pessoas de outros países foram trazidas e se misturaram aos israelitas que haviam sobrado (essa era uma prática comum dos reis assírios, para manutenção do poder imperial). Este povo mestiço eram os samaritanos da época de Yeshua, que já haviam abandonado os outros deuses e seguiam uma Torah (pentateuco) um pouco alterada e não conheciam os Escritos e os Profetas da Tanach.

Mas Yeshua deixou de lado essa discussão e usou a pergunta como um gancho para trazer à luz a cessação do culto nacional em Jerusalém. Como profeta, ele previu o fim do templo, e previu também que os verdadeiros adoradores adorariam ao Pai em espírito e em verdade. Ao falar de verdadeiros, deixou implícito que haviam falsos. Isto é conseqüência inevitável de uma religião nacional, em que, por motivos sociais, todos adoram, mesmo aqueles que não tem o coração preparado. O que o Messias de Israel previu foi que os verdadeiros adoradores, em todo lugar, libertados das amarras de servidão de suas religiões nacionais, poderiam adorar ao Criador, unindo-se aos verdadeiros adoradores que já existiam entre judeus e samaritanos. Milhões de almas que buscavam o Criador, seriam libertas para se expressarem, deixando de lado os príncipes dos ares e os espíritos.

O texto dá a impressão de uma oposição entre a religião nacional dos judeus e samaritanos e o verdadeiro culto a Deus. Mas isto é verdade apenas como recurso discursivo. O derramamento do espírito dentro dos corações dos adoradores, conforme previsto pelos profetas e agora por Jesus, tornaria-os diferentes dos antigos, em certa medida, mas os verdadeiros adoradores entre eles já adoravam verdadeiramente, conforme nos mostram os Salmos, escritos por diversos adoradores antigos, trazendo a alma diante do Criador. Verdadeiros adoradores sempre adoraram, desde de Abel, o justo e o culto nacional judeu ou samaritano não os impedia, pelo contrário lhes dava ambiente propício.



RELIGIÕES NACIONAL, COMUNITÁRIA, FAMILIAR E PESSOAL



O culto YHWH (muitos pronunciam Jeová, mas essa pronúncia é recente), por parte dos judeus, era um culto nacional, instituído por Moisés, embora os patriarcas já o conhecessem. Moisés deu ao povo a Torah (Ensino) que nós, cristãos, muitas vezes entendemos erradamente como apenas um conjunto de regras (a Lei). Os antigos judeus não entendiam assim, mas viam nos mandamentos um caminho de aprendizado das coisas, tanto naturais como espirituais, uma janela para um pouco da compreensão divina do mundo e um caminho de intimidade com o seu Criador. O salmista assim entendia:

Tenho visto que toda perfeição tem seu limite; mas o teu mandamento é ilimitado. Quanto amo a dua Lei! É a minha meditação, todo o dia! Os teus mandamentos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aqueles, eu os tenho comigo. Compreendo mais do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos. Sou mais prudente que os idosos, porque guardo os teus preceitos. De todo mau caminho desvio os pés, para observar a tua palavra. Não me aparto dos teus juízos, pois tu me ensinas. Quão doces são as tuas palavra ao meu paladar! Mais que o mel à minha boca. Por meio dos teus preceitos consigo entendimento, por isso, detesto todo caminho de falsidade. Lâmpada para os meus pés é a tua palavra e, luz para os meus caminhos. Jurei e confirmei o juramento de guardar os teus retos juízos” Salmos 119, versos 96 a 106.

Espantoso o amor desses antigos à Torah; ou pelo menos parecerá espantoso àqueles que julgam que ela é um fardo pesado e não compreendem seu sentido mais profundo.

Mas que ensinam os mandamentos de Deus (613, segundo a contagem dos rabinos)? Não entrarei aqui nos significados mais ocultos, mas falarei apenas do sentido mais óbvio: a maioria deles está ligado aos ministérios levítico e sacerdotal. Do restante, vários são sobre questões eminentemente éticas, outros sobre as festas nacionais judaicas, fazem ordenamento dos direitos diversos na sociedade, ensinam a maneira correta de realizar o culto a Deus, cuidam da higiene, saúde, alimentação, etc. Claro está que foram planejados para um país teocrático, com uma religião nacional e governo alinhado com esta religião.

Não é possível que a Torah fosse aplicável, da MESMA FORMA que era aplicável ao povo de Israel, em momento algum da história, a qualquer outro povo. Embora haja nela ensinamentos gerais, e até mesmo universais, nunca foi uma NORMA geral para todos os povos, porque não foi planejada para ser. Numa versão diferente, os judeus criaram, a partir do fim do segundo Templo, um novo judaísmo, não mais uma religião nacional, mas uma religião comunitária, restringindo muitas das leis, não mais aplicáveis no seu sentido explicito, apenas aos seus sentidos mais profundos. Restringindo ainda mais a aplicação da Torah, apenas aos seus sentidos ético, espiritual, e profético, o apóstolo dos gentios, Paulo, tornou-a ensinável a todos os povos. Uma Torah de bolso, um culto ao criador que poderia ser prestado por qualquer pessoa, mesmo que todos ao seu redor não quisessem participar da adoração, ou mesmo sob perseguição. Esta religião portátil pode ser praticada até dentro de regimes tão fechados como os comunistas. Até na Albânia do tempo dos ditadores loucos, até na Coréia do Norte atual. O culto pessoal, previsto por Yeshua, que une todos os verdadeiros adoradores.

NOTÍCIAS

Só há uma forma de eu não me irritar ao ler alguma notícia sobre ciência ou tecnologia nos jornais (ou pior ainda, ouvi-la nos telejornais). É desconhecer por completo o assunto. É sério, os jornalistas escrevem sobre o que não entendem, nem tem a intenção de entender.. Não estou sugerindo que eles errem alguma coisa de vez em quando, estou dizendo que dizem bobagens de forma aloprada, invertem o sentido de tudo, descrevem o assunto como se fossem crianças de dez anos. E muitos fazem a mesma coisa quando o assunto é história, teologia, política internacional..... Em ciência, não tem noção nem da ordem de grandeza das coisas. Em história, ignoram o que é conhecido por evidências, e crêem apenas na realidade das interpretações. Ignoram a realidade dos povos, nada sabem sobre os protagonistas dos fatos da política internacional e não tem a menor idéia do que ensinam as teologias. Eu pensava que fossem capazes de escrever de forma relevante apenas sobre política doméstica e esporte. Após ler Olavo de Carvalho e Reinaldo de Azevedo, descobri que noventa por cento do que pensava saber sobre a política brasileira, pela leitura de jornais, é simplesmente estória da carochinha. E desinteressei-me pelos esportes, antes que eu tenha uma outra grande decepção. Hoje confiro sempre alguns blogueiros, para saber outras versões dos “fatos” noticiados na imprensa.

domingo, 6 de abril de 2008

IGREJAS EM CÉLUAS

Há conceitos diametralmente opostos referidos como "igrejas nas casas". Um deles liberta. Outro, torna a hierarquia um instrumento de controle (possivelmente de uma futura ditadura).


http://www.jesussite.com.br/acervo.asp?Id=1373

Se você quer saber qual o melhor caminho para a Igreja, pense: A igreja nas casas, na China, liberta os cristãos do julgo do estado totalitário. O modelo proposto no ocidente, pode se converter num caminho de escravidão das igrejas ao estado-baba (totalitário, por conseqüência) que se busca implantar.

Segundo vejo, o problema do nosso sistema de igrejas nas casas, é que não é caseiro o suficiente.

domingo, 30 de março de 2008

OBSESSÃO

PODER DE CONVENCIMENTO

Felizmente não tenho de trabalhar como vendedor. É sério, eu morreria de fome, não sei como irai ame virar, não conseguiria vender lenha para um esquimó, nem água para alguém que estivesse morrendo de sede; não disponho de nenhuma das capacidades de um vendedor, e muito particularmente da capacidade de convencimento. O contador aí ao lado mostra meu insucesso em tentar vender minhas idéias, minha falta de capacidade inata. Ou talvez não... pode ser simplesmente que seja uma capacidade que ainda está oculta em mim. Quer dizer, bem ocultas mesmo, ninguém consegue perceber.

Em muitas ocasiões (durante grande parte da nossa história) a falta da capacidade de convencimento foi um desastre. Em tempos antigos, ir embora da terra onde se vivia era muito penoso. As pessoas deveriam descobrir como enfrentar o problema e convencer a maioria (ou aquele que tivesse mais poder) da melhor solução. Muitas Cassandras choraram o desastre anunciado, que poucos percebiam. O homem bem sucedido tinham de ser um ser político, e não saber fazer política era um defeito grave.

Num mundo amplo como o nosso, isso é um defeito menor. Freqüentemente, basta virar as costas e ir embora; inclusive quanto à vida profissional, pois se não conseguirmos tirar a empresa ou departamento da rota do desastre (ou o que nos parece um desastre), sempre podemos (com mais ou menos dificuldade) pular fora e arranjar outro serviço. Ou mesmo que a decisão tomada pela chefia não seja a mais adequada, deveríamos parar para nos perguntar “isso vai afetar tanto assim a minha vida?”, e freqüentemente a resposta é não. Nesse caso, convencer os outros não é essencial, e podemos deixar as coisas como estão, tipo “cada um com sua idéia, e todo mundo de bem”. Por algum motivo, em geral as mulheres tem mais dificuldade em perceber isso ... Pode ser o simples impulso ancestral de “vencer uma discussão”. Pode ser o reflexo de outras questões, bem mais internas ... mas creio que todo mundo conhece aquela pessoa que faz do convencimento de alguém a respeito de alguma coisa, o ponto focal de sua vida. Geralmente não se muda realmente a opinião das pessoas e principalmente, não se muda sua personalidade e visão de mundo. Elas mudam a sí mesmas, conforme sintam que devem, no seu tempo, à sua forma, no seu ritmo, e no sentido que decidirem. Ou podem não mudar nunca, e é bom que tenham esse poder.

É claro, pode-se fazer engenharia social, mudar parâmetros sociais e culturais que afetarão o pensamento de muitas pessoas, como fazem os regimes e grupos de viés totalitário. E pode-se, com técnicas psicológicas eficazes, moldar a personalidade de uma pessoa muito jovem ou em situação de vulnerabilidade. Já ví isso de perto, e é uma experiência assustadora. Mas estou falando de relacionamentos reais e não de manipuladores profissionais. E é no campo dos relacionamentos sinceros e verdadeiros que vejo muita gente sendo infeliz sem motivo. Gente que teria motivos para ser feliz, mas está presa a uma obsessão, falando o tempo todo para si mesma “ se meu marido (ou minha mulher) ao menos entendesse que...”. Via de regra é bobagem, todo mundo em volta percebe isso, menos os envolvidos no relacionamento. E como é uma missão impossível (dentro de um relacionamento verdadeiro), é um problema sem solução, uma ferida que não cicatrizará. É possível que a vida de uma pessoa se torne um tormento, se apenas ela se propuser uma missão impossível.



OUTRAS MISSÕES IMPOSSÍVEIS

Na política, pode ser do interesse de poder de algum grupo, movimento, ou governante, manter aberto um conflito sem solução. Para isto, deve-se convencer algum grupo a adotar objetivos inalcançáveis ou inaceitáveis pelo outro lado. É simples assim. É um exercício simples de engenharia social tomar uma parte “oprimida”, criar um movimento de “libertação” (ou aproveitar algum já existente, e definir seus objetivos de forma a garantir a continuidade do conflito. No caso da Irlanda do Norte, aproveitou-se um movimento já existente. Mas seus objetivos originais (a unidade de um país que teve unidade histórica por séculos) compreensíveis, foram redefinidos de tal forma que, após algum tempo, propunha-se a transferência de toda população descendente de ingleses e escoceses, simplesmente a maior parte da população da Irlanda do Norte, e cujos antepassados estavam no país a alguns séculos. Os objetivos absurdos não foram a causa da queda da credibilidade do movimento, mas sim seus métodos cada vez mais mafiosos, que levaram seus apoiadores a desistir, fazendo cessar o terrorismo. Esta é uma lição importante. Nunca o terrorismo acabará sem que seus agentes se tornem fracos ou sejam destruidos.

O movimento separatista basco é pior ainda. A imensa maioria dos bascos não aprova seus métodos, e grande parte dos bascos nem mesmo se interessa pelo separatismo. Sem representatividade, vive da extorsão de empresários e da ajuda de outros grupos e estados terroristas. Ultimamente tem recebido intenso apoio do tirano Hugo Chavez. Visto que busca um objetivo (separação do país basco do estado espanhol) que nem mesmo é desejado por muitos bascos, é em princípio um movimento que não pode atingir seus objetivos. A quem interessa que exista um movimento assim?

As Farc também tem um objetivo: a destruição do estado democrático da Colômbia e a implantação de uma ditadura socialista. Visto que é um objetivo rejeitado pela imensa maioria dos colombianos, e visto que pelos seus métodos e apoio internacional é uma guerrilha difícil de ser destruída, chega-se a uma situação de impasse. Novamente, são interesses estrangeiros (do governo Venezuela e .... do brasileiro!) que sustentam essa ação criminosa contra o regime democrático colombiano.

O caso dos palestinos é um capítulo à parte. Durante mais de cem anos, árabes de Damasco e do Cairo, donos das terras inóspitas e pouco habitadas da Terra Santa, venderam por bom preço, terras inférteis aos judeus europeus, que vinham se juntar aos judeus que já viviam lá (uma porcentagem considerável da população original). Com a recuperação das terras, a atividade econômica cresceu grandemente. Mesmo com a vinda de um grande número de imigrantes árabes, atraídos pelo crescimento econômico, os judeus continuaram uma porcentagem grande da população, e quando da saída do império a ONU estabeleceu que cerca da metade dos territórios seria dos judeus. Imediatamente após a fundação do estado israelense, os países árabes deram instruções à população árabe de Israel, para que saísse do páis, de forma que seus exércitos pudessem dizimar a população judaica. Como sabemos, ao contrário do esperado, cinco países árabes tiveram seus exércitos vencidos, e as fronteiras de Israel se expandiram um pouco, logo após a fundação de seu estado, numa guerra defensiva. Os territórios “palestinos”, que mais tarde seriam ocupados pelos israelenses ficaram então em poder de egípcios e jordanianos. Durante anos, as populações árabes locais não tiveram o menor interesse em estabelecer um país. E até hoje não estabelecem nada parecido com um país, mesmo quando os israelenses se retiram unilateralmente.

A OLP foi criada no exílio, por um egípcio (Arafat), sobrinho de um nazista. Nasceu com apoio das serviços secretos dos países da Europa oriental (em particular da antiga, e infame, Alemanha Oriental e da Romênia, do “saudoso” Ceausescu). Foi criada com um objetivo falso: Criar um novo país chamado “palestina”. Novo, por seu um país que nunca existiu, na verdade apenas um nome dado por provocação pelos romanos a regiões que abrangiam diversos países. Nunca se referiu a um povo específico (a não ser que algum historiador maluco imaginasse que os atuais habitantes da Terra Santa sejam descendentes dos antigos filisteus, grupo de cinco cidades estados entre o Egito e a Terra Santa). A OLP foi pensada desde o início para manter o conflito aberto, nunca para resolve-lo, isso não seria do interesse de seus financiadores. Como disse certo oficial do exército egípcio “lutaremos até o último palestino”.

Mas então, surgiu um fato novo: O Egito buscou a paz com Israel, que aceitou devolver o Sinai (que ganhara numa guerra defensiva, e portanto não tinha obrigação nenhuma, diante das convenções internacionais, de devolver). A situação exigia uma mudança de tática: Estar sempre disposto a entrar em negociações e fazer tudo para melar qualquer chance delas darem certo, esse era o novo caminho, que tem sido seguido pelos “lideres palestinos” até hoje. Na época, “negociadores palestinos” puderam contar com a estupidez do pior presidente americano que já houve, o impagável Jimmy Carter.

De qualquer forma, a população árabe da Terra Santa, os chamados palestinos, continuam até hoje a atrelar qualquer possibilidade de vida normal e felicidade, ao objetivo estúpido de “jogarem todos os judeus no mar”. Obsessões criam, artificialmente, as infelicidades...

BUG DO JORNAL

Há alguns anos, estava na moda a histeria em torno do “bug do milênio”. Até o “momento final”, às 23:59 horas do dia 31 de dezembro de 1999, os jornais vendiam a “notícia” de que algo terrível poderia acontecer com a humanidade, pois seria perfeitamente possível que a maioria dos computadores enlouquecessem e passassem a funcionar de maneira totalmente imprevisível. Gente impressionável acompanhava temerosa as notícias. Quando nada de mais aconteceu, surgiram teorias da conspiração, como sempre envolvendo americanos e a CIA, tentando provar que não haveria bug nenhum, mas teria sido tudo uma armação.

É interessante a argumentação das pessoas para provar que um desastre se anunciava: “Se ninguém fizer nada para alterar o rumo dos acontecimentos, os grandes computadores vão deixar de funcionar na virada do milênio”. Na verdade, se ninguém fizer nada para alterar o rumo dos acontecimentos, todos os grandes computadores poderão parar em poucos dias a partir de hoje... Se ninguém fizer nada para alterar o rumo dos acontecimentos, todos os carros que se aproximam de alguma curva sofrerão um desastre, todas as pessoas que se aproximam de uma escada vão quebrar o pescoço, ou pelo menos se machucar um pouco, Realmente, se as grandes empresas, (principalmente do ramo financeiro), não fizessem nada para se adaptar à nova situação, os sistemas falhariam... Mas por que cargas d´água elas não fariam nada!

Como muitas das pessoas de classe média, nas grandes cidades, conheço algumas pessoas que trabalham com informática, dentro de grandes empresas. Apenas por ouvir comentários, sabia, muitos meses antes do “dia fatídico” que as grandes empresas nas quais meus conhecidos trabalhavam tinham escrito e testado exaustivamente os códigos necessários para a mudança de data. Nenhum de meus conhecidos que trabalham no ramo, mostrava qualquer ansiedade quanto ao assunto, ao contrário de outras questões (maior demanda de serviços durante o natal, por exemplo). Em suma, eu, um leigo no assunto, percebia claramente que não havia nenhuma emergência se aproximando, mas apenas um problema comum, que como quase todo problema tem solução comum.

Mas eu fico pensando... Se era tão simples para mim perceber que algumas grandes empresas estavam com a situação sob controle, por que motivo os jornalistas (e mais ainda, os editores) não percebiam não havia nenhuma grande instituição com sérias dificuldades para fazer a adaptação? É isso mesmo, por que não percebiam que não havia notícia nenhuma, que nenhum desastre iria acontecer? Bastava que alguns jornalistas sondassem alguns conhecidos dentro das grandes corporações. Mas eu estou esperando muito... Não é do interesse dos jornalistas perceber que não existe notícia. Não é assim que são feitos jornais.

PALAVRAS

Já há muito tempo, perturba-me um pensamento: Grande parte da imensa confusão das pessoas, em geral (e dos cristãos em particular) a respeito da doutrina cristã, advém da simples dificuldade de ler o texto bíblico. Nem falo aqui de dificuldades com a exegese ou com detalhes da lingüística, da história, da compreensão da cultura em que foi escrito cada livro bíblico. Nem mesmo falo da análise gramatical correta, mesmo do texto traduzido. A primeira dificuldade em que as pessoas tropeçam, muito mais simples do que tudo isso, é a compreensão do significado das palavras. Não se assuste o leitor, não vou falar de detalhes sutis no significado do texto hebraico ou grego. Estou falando de português mesmo.

A maioria das versões modernas em português são paráfrases altamente influenciadas pela interpretação dos tradutores (como toda paráfrase). Quem quiser alguma percepção das reais palavras dos autores lerá traduções mais antigas, ou suas atualizações. No caso das igrejas de tradição protestante, as atualizações da tradução Almeida tem sido as mais lidas e citadas, nas últimas décadas. É uma tradução muito antiga, e muitas palavras que foram escolhidas na época (e mantidas nas atualizações) tiveram seu significado alterado nos últimos séculos, causando uma certa confusão em pessoas que não tem o costume de ler textos mais antigos. Outras pessoas fazem confusão por conhecerem pouco do significado atual das palavras, aderindo ao mais popular. Outros tropeçam em conceitos da cultura atual, que os cegam para a intenção do texto, mesmo que explícita e, finalmente, há aqueles que ignoram as próprias definições dadas na Bíblia. Vou citar aqui alguns exemplos de confusões comuns dos leitores da Bíblia. O leitor pode procurar outros; é um exercício muito útil, que nos permite escapar de interpretações absurdas, mas comuns. Talvez eu torne ao tema, futuramente.

  1. O que é a “avareza”, tão condenada na Bíblia, que as cartas apostólicas consideram um tipo de idolatria? Se o leitor pensou no tio Patinhas, esqueça. Muitos espectadores, ao assistirem a peça “O avaro”, fazem essa associação e ficam sem entender nada. Avareza é mesquinhez, preocupação excessiva consigo mesmo, “olhar para o próprio umbigo”, como dizem atualmente. Seu oposto é a generosidade (o pensamento e a ação voltados para o gênero humano) uma característica que se desenvolve com o tempo. Deixar de ser bebê é perceber a existência do outro. A continuação desse desenvolvimento é ter interesse, empatia e finalmente paixão pelo outro. A culminação disso é amar o próximo como Cristo nos amou.

Talvez o leitor esteja perguntando: espera aí . . . quer dizer que o famoso mão de vaca não é um avarento? Até pode ser, mas não necessariamente. Pode ser apenas uma pessoa que tem o talento de fazer o seu dinheiro render. Mas e o sujeito mesquinho, que é doentiamente “mão de vaca”? Bom, o leitor já respondeu, é um doente. Seu grau de responsabilidade pelo seu comportamento é uma questão para se analisar caso a caso (e em parte, a nossa doença é nossa maldade), mas o que o diferencia do comum da humanidade é sua doença. E o sujeito perdulário, pode ser um avarento? É isso aí. E freqüentemente é.

  1. Inocência. Poucas palavras tem mudado tanto de significado. É aquele que não é culpado, mas a palavra tem sido usada no sentido de ignorante, aéreo, neófito, e até estúpido. Como se deu essa estranha associação de sentido? Pelo fato de que, muitas vezes, a defesa da inocência de uma pessoa ser feita pela alegação de desconhecimento (vide o caso do mensalão). Mas essa associação entre desconhecimento e inocência só pode ser feita de forma limitada. Há muito desconhecimento injustificável e a ignorância, passado um ceto limite, e culpável e até criminosa. Para um cristão, em particular, alegar desconhecimento pode ser admissão de culpa, visto que a Bíblia ensina a busca da sabedoria. Na Tanach, desconhecer a causa dos pobres é considerado uma impiedade e no NT está escrito “sede adultos no conhecimento e crianças na malícia”. Aqueles que chamamos de “inocentes', freqüentemente são o que a Bíblia chamaria de “tolos”. Ou pior ainda, hipócritas (eu tenho certeza de que o leitor conhece um caso assim, uma pessoa muito conhecida).

  2. Malícia. É maldade, não é esperteza. Quando um jogador de futebol prevê o lance seguinte com mais clareza que seus adversários, freqüentemente se diz que ele tem malícia, o nome de um vício. Mas na Bíblia a capacidade de agir com base em previsões bem fundamentadas é chamada de sabedoria, o nome de uma virtude. E a atitude de se prevenir contra uma possível adversidade é a “prudência”. Voltando ao exemplo do futebol: um jogador percebe com antecedência a situação e escapa de um “carrinho”. Segundo a Bíblia ele é sábio e prudente (pelo menos, quanto a esse assunto).

  3. Tolo. Segundo a Bíblia: “Diz o tolo em seu coração: não há Deus”. Tem um monte de gente bacana e “bem pensante” que entraria nessa categoria.

  4. Sábio. Segundo a Bíblia: “o temor do Senhor é o princípio da sabedoria”. Tem um monte de gente bacana e “bem pensante” fora dessa categoria.

  5. Ungido. No tempo dos reis, três eram as funções cujos titulares eram ungidos: O rei, o profeta e o sacerdote. A unção não implicava em infalibilidade nem em autoridade absoluta. Significava o auxílio do Espírito do Eterno, para que a pessoa pudesse exercer bem sua função. A Aliança renovada em Cristo prevê a unção sobre todos os que crêem. No meio petencostal há quem queira que o pastor é “O Ungido do Senhor”, e portanto teria uma autoridade incontestável, mesmo quando está claramente errado. É interessante quem nem mesmo os católicos dizem isso sobre o papa, cuja suposta infalibilidade é sujeita a muitas limitações, mas há supostos herdeiros da Reforma querendo fazer dos seus “pastores”, “bispos” e “apóstolos”, novos “deuses”.

  6. Fé não é arriscar-se. É todo conhecimento obtido pela iluminação do espírito do homem, conforme define o apóstolo: “a certeza das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se vêem”. Mas parece um risco, uma decisão tomada contra as possibilidades, pois quem vê a ação daquele que tem fé, não percebendo os mesmos fatos espirituais, tem a nítida impressão de ver alguém apostando contra as probabilidades, embora agir com fé VERDADEIRA seja prova de sabedoria e prudência. Vejo como isto afeta nosso entendimento da Bíblia quando alguém pergunta: Fé é ter confiança nas obras de Deus ou em Seu caráter? Quem pergunta isto está buscando uma definição muito mais restrita do que aquela que a própria Bíblia dá.



Por enquanto é só.

sábado, 22 de março de 2008

MALHANDO JUDAS

MARXISMO INTERNO



“Foi pois Jesus seis dias antes da Páscoa a Betânia, onde estava Lázaro, o que falecera e a quem ressuscitara dos mortos. Fizeram-lhe pois ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.

Então Maria, tomando um arretel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento.

Então um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: Por que não se vendeu este perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres?

Ora ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e, tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.

Disse pois Jesus: Deixai-a; para o dia da minha seupltura guardou isto; porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.”

Evangelho segundo S. João



Uma característica marcante do marxismo é o seu propalado desprezo pelo estudo de qualquer assunto apenas pelo prazer de encontrar a verdade, sem ter em vista a aplicação prática imediata. Não sei como um marxista entende a atração pela matemática pura, o prazer de estudar um assunto por estudar, a fascinação que a astronomia sempre exerceu sobre o homem, muito além de qualquer aplicação prática reconhecível, o imenso prazer que nos causa uma história de mistério.

Porém, incoerentemente, o próprio marxismo surgiu, não de uma práxis, mas como estrutura teórica. Pior ainda, pelas mãos de um “pequeno-burguês”, que de acordo com sua própria tese não poderia enxergar a luta de classes, muito menos tomar partido das “classes oprimidas”, pois era parte de uma “classe” que deveria refletir a “ideologia” das “classes dominantes”. Quando finalmente ocorreu a “revolução do proletariado”, não foi nos países industrializados, como era previsto, nem mesmo foi realmente do proletariado. Pelo contrário os revolucionários eram pequenos burgueses, com apoio maciço de capitais da grande burguesia e intensa colaboração do que poderia ser chamada de “classes falantes” (professores, escritores, cineastas, autores de teatro, atores, jornalistas), que teoricamente são porta-vozes da “ideologia burguesa”. Bom, mas a revolução não poderia acontecer de outro modo mesmo, visto que , como Marx já sabia, quando estava escrevendo “O Capital”, o suposto motivo da revolução, o empobrecimento crescente das “classes trabalhadoras” era uma mentira. Ele conscientemente fraudou os dados em que se baseava para “prever” uma revolução cujos “motivos” não existiriam.

Feita a revolução na Rússia, hordas de “intelectuais” (aqueles que supostamente representam a “ideologia burguesa”), trabalharam por décadas, por dinheiro, chantagem ou paixão, para obstruir o conhecimento das desgraças, genocídios, fomes e injustiças que lá ocorriam. Também obstruíam a percepção do extremo protagonismo da URSS em todas as partes do mundo, por trás de guerras, revoluções, “movimentos sociais”, disputas por territórios, “exércitos de libertação”, etc. Quando chegou a vez da China, uma intensa desinformação do seu próprio serviço secreto fez os governantes americanos desprezarem seus amigos e colocarem a esperança em seus inimigos. Mais tarde, os americanos perderiam por pressão da própria imprensa, uma guerra que já tinham ganho (a guerra do Vietnam, onde as tropas vieticongs perderam metade de seus efetivos na fracassada ofensiva do Tet, ficando totalmente à merce dos americanos).

No campo cultural, o mais importante, todas as mistificações marxistas sobre a história tornaram-se ensino padrão, da escola elementar à universidade. Hitler, aliado rebelado de Stalin, é chamado até hoje de “extremista de direita”. As esquerdas ordenam as palavras que podem ser ditas e as que não podem. Aliados dos mais sanguinários regimes que já existiram, a URSS e a China, são considerados, pela “imprensa burguesa” (nas redações onde um não socialista teria de entrar pisando em ovos) como as pessoas mais verdadeiras, justas e sábias. Não concordar com o socialismo é considerado um pecado. Toda “causa” abraçada pelas esquerdas recebe intenso financiamento internacional. É interessante que esse viés ultra-socialista das classes falantes era fortíssimo mesmo antes de Gramsci.

Na descrição econômica vigente, a pobreza crescente da África, cujos governos foram influenciadas profundamente pelo socialismo, deve-se ao capitalismo. Mas o aumento imenso da prosperidade na Ásia, em cada país que foi adotando o capitalismo, não deve-se ao capitalismo. Talvez tenha sido causado por extraterrestres...

A se crer na história oficial, em TODAS as dezenas de países socialistas que fracassaram e cometeram os mais terríveis crimes, não se pode achar nenhuma explicação mais genérica, mas apenas o resultado de circunstâncias fortuitas (muito estranho justo os marxistas pensarem isso). A se crer na história oficial, todos os intelectuais e toda classe dominante nos países marxistas sempre creram de pés juntos que o resultado do domínio dos regimes marxistas no mundo todo será a sua extinção como classe. Segundo essa visão, todos marxistas que já existiram sempre creram (até mesmo as poderosas e 'boas-vidas cúpulas' da KGB e do PC chinês) que o aumento total do poder do estado, a ponto de ninguém saber nada ou pensar nada que o estado não queira, resultará em liberdade total de todos e extinção do estado. Assim, as poderosas cúpulas dos PCs, formando uma aristocracia cujo poder e regalias passam de pai para filho, e cujas lutas por mais poder e regalias tem sido homéricas, estariam conscientemente trabalhando para sua própria extinção. Também segundo a história oficial, o intenso financiamento dos movimentos esquerdistas e a defesa de grupos terroristas respectivamente pelas grandes fundações capitalistas e pelos magnatas da imprensa são atos de insanidade ou burrice apenas.

Bom, a história contada assim, parece um samba do crioulo doido. Não existe chance de encontrarmos alguma explicação coerente dessa forma. Vamos tentar uma abordagem diferente:

O marxismo, assim como eram as antigas religiões pagãs, tem dois níveis, um exotérico (aberto) e outro esotérico (para seus sacerdotes). Aquilo que foi publicado de Marx refere-se ao nível aberto, para o público em geral. Não é o que ele cria, nem o que ele pretendia. É o que ele pretendia que as pessoas cressem. As classes dominantes dos países socialistas não estão nem aí para uma suposta extinção, pois sabem que nunca ninguém realmente inteligente acreditou no “fim da história” ou na extinção do governo. Os grupos intermediários das hierarquias socialistas vêem o comportamento dos seus superiores e deduzem, em silêncio, que esse papo de “fim de todo governo” é uma estória para boi dormir. Pessoas com QI mediano ou acima, e que não estejam fanatizadas, nunca levaram isso a sério. A “fase final” do comunismo sempre foi uma mentira para justificar todo e qualquer crime que os regimes marxistas possam cometer. A suposta extrema bondade, de um fim ao qual nunca se poderia chegar pelos meios propostos, fazem de toda ação criminosa de seus militantes um ato de justiça. É só para isso que serve esse mito, e certamente Marx tinha inteligência suficiente para saber o que estava fazendo. Neste ponto, chama a atenção uma diferença fundamental do marxismo em relação a toda outra doutrina. A “ética” marxista é totalmente finalista, como nenhuma ética jamais foi. Não há qualquer restrição em relação aos meios, em relação ao trato das pessoas, sejam outros marxistas, sejam os “não crentes”. Ao firmar a sua “ética” totalmente no suposto “fim da história”, Marx certamente previu que disso resultariam regimes extremamente desumanos, tanto quanto os piores que já haviam existido. Era inevitável, e não escaparia à sua mente. Seria inevitável também o surgimento de “reis divinos”, semelhantes aos da antiguidade. Mas isso talvez não fosse perceptível para Marx.

Resumindo: Centenas de milhões de “crentes” em Marx, crêem não no que ele cria, mas no que ele queria que crescem. São cabeças de aluguel, gente que para obter algum sentido de vida se entregou a uma mentira evidente, dispôs da sua mente, aboliu grande parte da sua própria liberdade de pensamento. Milhões de livros, artigos, entrevistas, lições, são uma loucura em que seus autores consentiram em crer, ou uma mentira que julgaram apropriado contar. São milhões que consentiram em crer no “exoterismo” marxista, e certamente teriam medo de conhecer seu “esoterismo”. Mas o leitor deste blog provavelmente será alguém que não tem medo de perguntar: Qual a doutrina interna do marxismo? Qual sua real natureza? Quais seus reais objetivos? O que pretendem, não o militante de mente alugada, mas os poderosos que dominam tantas mentes?

Alguém poderá dizer: “que abordagem maluca!!!”. Pode ser, mais faz muita coisa se encaixar.



MOTIVOS

Justamente aquele que seria capaz de trair o próprio Mestre por uma ninharia, este mesmo fez o eloqüente discurso em prol dos pobres, naquela ceia em Betânia. Ali, em frente a um homem que ressuscitou dentre os mortos e a outro que foi o autor do milagre, fez um discurso cínico, extremamente fingido, desesperado por conseguir uma grana a mais. Pouco tempo depois ele se tornaria traidor. Talvez não suportasse mais o Mestre, aquele homem poderosíssimo, mas tão pouco prático. Aquele homem que não tinha nem residência e andava sobre animal emprestado, mas que defendia a ação destemperada da irmã de Lázaro, aquela que gastou um perfume importado caríssimo numa cena de devoção.

Materialista, aproveitador do dinheiro dos outros, invejoso e, principalmente, um homem de intenções nada claras. Quem ouvia seus discursos, não entendia suas intenções. Sabia disfarçar uma mente deformada com um discurso em defesa dos pobres. Seus companheiros talvez o admirassem, nunca o entenderam até que suas ações deram o seu fruto de morte. Assim era . . . bom, ambos eram assim, o petralha antigo e o moderno. O antigo, vendeu aos carrascos o Salvador da humanidade. O moderno, causou morte e escravidão entre os povos.

domingo, 9 de março de 2008

DEISTAS ACIDENTAIS

Tem sido comum, ao longo da história, que ao visitar uma pessoa doente, o cristão diga “peço a Deus que você se reestabeleça logo”, ou “que Deus lhe dê saúde”, seguido ou não de “se for da vontade de Deus”, ou algo semelhante. Não há registro de que algum dia tais expressões tenham sido objeto de censura ou mesmo discussão. Estranhamente, durante o último século, nos EUA, e agora também no Brasil, em certos grupos evangélicos, falar assim seria considerado um pecado, ou pelo menos um sinal de falta de entendimento teológico. Mais ainda, os que colocam as coisas dessa forma dizem serem herdeiros da verdadeira tradição da Igreja, do que ela sempre creu! É uma estranha forma atual de cessacionismo, que é uma doutrina que defende que os dons espirituais cessaram no fim da época dos apóstolos. Tal doutrina surgiu alguns séculos depois de Cristo. Muito mais recentemente surgiu o conceito de que seria impossível qualquer evento milagroso após a época dos apóstolos, o que podemos chamar de cessacionismo absoluto.


AQUELES QUE REESCREVEM A HISTÓRIA


Creio na doutrina da continuação dos dons do Espírito do Eterno. Um dos motivos pelos quais eu creio nisso é a ausência de qualquer resquício de alguma doutrina cessacionista nos primeiros séculos. Quando não encontramos referência a alguma doutrina ou prática entre os primeiros cristãos, devemos por as mãos na cabeça e pensar cincoenta vezes se essa doutrina não é falsa. Os apóstolos diziam ter ensinado tudo quanto é necessário aos seus discípulos e estes teriam de ter demonstrado de alguma maneira cada doutrina importante, através de seus escritos e de suas obras registradas na história. Cada doutrina ou prática que não tem atestação primitiva deve ser provada, escrituristicamente, de forma muito mais forte, pois já nasce com uma evidência pesada contra si. Considero impossível que qualquer doutrina essencial seja definida apenas séculos depois de Cristo. No máximo, e mesmo assim com grande ônus inicial para os seus defensores, poderá ser uma definição mais precisa do que já fora dito antes. Mas geralmente ocorre que, quanto mais recente é o surgimento histórico de uma doutrina, menos forte a sua prova escriturística.

O cessacionismo foi proposto pela primeira vez por Agostinho, que nunca citou nenhum autor anterior como defensor dessa doutrina, pelo contrário, atribuiu sua construção a si mesmo. Pior ainda, no fim de sua vida renegou-a, pois era baseada firmemente em sua própria experiência, na “prova” negativa de não ver os dons do Espírito atuando em seu tempo. Aquilo em que se crê pela experiência, mesmo que receba depois uma capa de justificação teórica, pela experiência cai. Assim foi com o cessacionismo de Agostinho, que ao ver uma cura milagrosa, jogou-o fora, junto com a justificação teológica que havia construído. Tal é a fraqueza dos argumentos de Agostinho, segundo sua própria avaliação.

Vendo o desenvolvimento histórico da cristandade, numa perspectiva que seria impossível a Agostinho, sua hipótese parece-nos ociosa. Ele buscava uma explicação para a ausência de dons, e construiu-a com a doutrina do cessacionismo. Mas para nós há uma explicação muito mais simples, a extinção do Dom do Eterno pelo desvio da Igreja. Os grandes pecados da Igreja nos séculos posteriores são claramente resultantes de erros que já começavam a se agigantar no tempo de Agostinho. Além disso, como citaremos mais tarde, há uma variação da freqüência dos milagres ao longo do tempo.

Mesmo aceita como explicação genérica para a pouca ocorrência do milagroso, em relação aos tempos apostólicos, o cessacionismo não era de forma nenhuma absoluto. Não ocorria a ninguém a idéia de um Deus proibido de agir sobrenaturalmente no mundo físico. Não é que tal idéia não tenha sido aceita, é que nem sequer foi proposta, em instante algum, seja durante os primeiros séculos, seja durante o desenvolvimento das Igrejas católicas ocidental e oriental, ou pelos pré-reformadores, pelos reformadores, ou durante a formação das igrejas nacional, e a formação das denominações não estatais históricas. Tudo que se afirmou é que alguns dons cessaram, e os milagres, se ocorressem, não ocorriam através deles. Em toda a história da Igreja, até a idade moderna, não há testemunho de igreja que duvidasse que Deus age milagrosamente em qualquer momento que ele queira, atendendo às orações ou não. As doutrinas, os ritos, os escritos dos formadores da doutrina, tudo testemunha sobre a crença no poder sobrenatural do Eterno invadindo a história, sem pedir licença nem esperar o momento que os homens julguem “adequado”. Nada testemunha de uma suposta impossibilidade do milagre. Quem nega isso, não leu os cristãos antigos ou medievais, orientais ou ocidentais, os reformadores e os católicos.

Se o cessacionismo absoluto é doutrina nova, quando ela surgiu? Sabemos que existe hoje, mas desde quando? Espantosamente, parece que surgiu por influência do deísmo inglês, levado para as Américas. No início do século XX, quando começou a querela nos EUA contra os petencostais, alguns evangélicos usaram o argumento do cessacionismo de maneira exagerada, imitando, de forma aparentemente inconsciente, o deísmo de dois séculos antes. Assim, para ter armas mais fortes para um embate, tornaram parte dos evangélicos americanos, de forma inédita, deístas práticos, fazendo o que dois séculos de assédio não tinham conseguido fazer. Criaram, dentro do coração de muitos evangélicos, o deus ausente dos deístas, que não atende às orações. E, espantoso, forjaram uma falsa história para se justificarem. Aparentemente, depois que os marxistas inauguraram esse caminho da história mutante, abriu-se uma caixa de Pandora. Suponho que o próprio Diabo tenha se assustado, quando descobriu que pode-se mentir impunemente sobre fatos bem conhecidos e bem documentados da história. Mas isso é assunto para um outro artigo.


ARGUMENTANDO DENTRO DA PRIMEIRA CARTA AOS CORÍNTIOS


A seção anterior basta para desmascarar o cessacionismo absoluto. Mas pretendo mais do que isso, mostrar a falta de base do cessacionismo em si. Neste pequeno artigo, farei uma curta análise da questão na “Primeira carta do apóstolo Paulo aos coríntios”.

Até o capítulo 11, o apóstolo trata de diversos assuntos referentes a questões práticas, dificuldades que estavam ocorrendo naquela igreja. Do capítulo doze ao quatorze, é também uma resposta a uma questão prática, sobre o uso dos dons do Espírito, apenas um pouco mais comprida, pois seria necessária alguma explicação inicial sobre o assunto, na maior parte desse trecho, antes de chegar às recomendações práticas, a partir do verso 26 do capítulo 14. No capítulo 15 ele responde a uma questão sobre a ressurreição, e no 16 ele dá instruções sobre coleta para os irmãos da Judéia e faz as exortações e saudações finais. Exposto assim esse “índice” do livro, claro está que a última parte do capítulo 14 é conseqüência do que foi dito nos capítulos 12, 13 e início do 14, e não pode ser contraditório com o que está ali. Estranhamente, muitos deduzem da parte inicial do trecho uma doutrina que contradiz frontalmente a conclusão prática no final do capítulo 14, julgando que o apóstolo ensina contra a existência, já naqueles dias, dos dons espirituais, ou pelo de parte deles. Os que argumentam assim, parecem cegos ao fato de que no final do capítulo 14 ele regula o exercício desses dons “desaparecidos”. Tal argumentação é tão sem sentido que não perderei meu tempo com ela.

Uma segunda linha de raciocínio cessacionista é a que defende que o “falar em línguas”, citado no texto, seria simplesmente a fala de algum estrangeiro que estivesse visitando a igreja. É um argumento estranhíssimo, visto que no trecho todo, o “falar em línguas” é atribuído à ação do Espirito do Eterno, comparado a profetizar. Quem argumenta assim teria de fazer uma colcha de retalhos, pegando a mesma expressão nas suas diversas ocorrências dentro do trecho e dando-lhe significados diferentes, conforme o seu interesse em provar seu ponto. Além de ser uma forma absurda de ler um texto, supõe que o apóstolo fosse um escritor maluco.

Uma terceira argumentação, mais séria que as duas anteriores, é a de que o apóstolo prevê a cessação dos dons espirituais, com o término da era apostólica. Esta é a argumentação mais antiga, de Agostinho (mesmo assim, séculos após Cristo).

Freqüentemente os que defendem essa tese pretendem ver no texto uma ”oposição” entre o amor e o exercício dos dons. Estranha essa visão, que considera que algum dom (presente) dado pelo Eterno as sua Igreja pode opor-se ao amor. Penso o contrário, que se algum presente foi dado pelo Eterno à sua Igreja, terá de ser algo que trabalhe na mesma direção que o amor. Se, por absurdo, houvesse tal oposição, Paulo teria proibido e não regulado os dons. Mais tais pessoas consideram que o apóstolo está desestimulando os dons. Estranho, considerando que ele exalta a sua variedade, chama o falar em línguas de falar mistérios em espírito, ordena o seu uso como coisa útil e boa à Igreja. Há textos na Bíblia que parecem opor a sabedoria ao amor, mais ninguém os interpreta assim. Mas qual o significado da aparente oposição entre dons e amor? Paulo opõe o amor à vaidade e ao orgulho, que alguns por infantilidade exibiam, por causa de seus dons e isso faz muito mais sentido, pois amor não se opõe aos dons de Deus, mas se opõe ao egoísmo, o qual resulta em orgulho.

Geralmente, a parte principal da argumentação cessacionista consiste em interpretar “o que é perfeito” (verso 10 do capítulo 13) como o fechamento do cânon. Os versos 11 e 12 continuam o mesmo argumento, falam da mesma coisa. Mas não parece viável aplicar o verso 12 à época presente. Certamente nossa visão ainda é obscura, certamente nós não vemos o Eterno face a face, certamente não o conhecemos como somos conhecidos. Mas haverá quem queira que o verso 12 nada tem com o 10 (ao mesmo tempo que ligam o 10 com o 13). O ônus que se paga para crer nisso é que o texto vira um samba do crioulo doido. Sem problemas, há quem não se importe com isso, desde que faça valer a tese que lhe agrada. Mas alguém dirá: “se não é o cânon, logo o que é?”. Não tenho de ter uma resposta para isto, há muitos coisas difíceis na Bíblia, particularmente em relação aos últimos tempos. Geralmente a prova negativa é mais fácil que a positiva, e o meu argumento prova conclusivamente o que não é. Desde tempos imemoriais, sempre houve (e continuará havendo) quem se aproveite da obscuridade de algum assunto para tentar convencer de algo absurdo. E muitas vezes usando o mesmo argumento: “eu tenho uma resposta, meus adversários não tem nenhuma”. Nós não temos muitas respostas, e é melhor não te-las do que ter as erradas.

Resta finalmente o verso 13, cuja interpretação mais óbvia quereria dizer que os dons já haviam cessado na época em que a carta foi escrita. Mas já provamos que isto é absurdo, em face do teor todo do trecho, que só tem sentido se os dons fossem atuantes, e em particular do fim do capítulo 14, que regula o uso dos dons. Ninguém de bom senso aceitaria uma interpretação absurda dentro da própria argumentação do texto, apenas por ser a interpretação mais literal. Alguém argumentará que não haverá nenhum outro tempo, fora o período entre o fim da era apostólica e a segunda vinda do Cristo, em que fé, esperança e amor possam ser os únicos dons. Primeiramente, talvez a palavra traduzida como “agora” possa ter um significado que não indique tempo, mas ênfase, por exemplo. É um bom debate para os que sabem bem o grego dessa época. Por outro lado, no milênio haverá sim lugar para a fé e a esperança, juntamente com o amor. Tanto assim que haverá aqueles que, no fim do milênio, se revoltarão contra o Ungido. Certamente tais pessoas não terão confiança em suas promessas dos novos céus e nova terra, nem terão esperança nessa realidade superior.

RESPONDENDO A VÁRIOS ARGUMENTOS CESSACIONISTAS


  1. Supõem, muitos cessacionistas, que o único motivo da ação sobrenatural é servir de sinal para um público. Mas muitos dos milagres feitos por Jesus e pelos servos do Eterno não tiveram como único objetivo servir de sinal. Na verdade, muitos não foram citados na Bíblia, e muitos foram feitos em particular. Freqüentemente Yeshua pedia segredo aos beneficiados. E outros motivos são citados para o milagre, em muitos casos.

  2. O cessacionismo geralmente supõe que a profecia (ou seus equivalentes), resulta necessariamente em Escritura. Esse é o argumento usado para negar a existência de profecias após o tempo dos apóstolos. Pois bem, a maioria das profecias jamais produziu Escrituras. No NT, haviam profecias (ou dons equivalentes) com objetivos bastantes limitados, como orientar a obra de evangelização, avisar sobre dificuldades futuras, enfim, aplicações que seriam válidas hoje ou em qualquer tempo.

  3. Respondendo ainda ao argumento anterior, se toda comunicação do Espirito com uma pessoa particular gerasse Escritura, o Espírito não poderia nem mesmo chamar os pastores.

  4. É suposição comum entre os cessacionistas que milagres só ocorrem para autenticar profetas ou a formação das Escrituras. Mas isso não é verdade, não está escrito em lugar nenhum da Bíblia que seja assim, isso não pode ser deduzido inevitavelmente e, na verdade, é fácil encontrar contra-exemplos. Houveram muitos sinais na época dos Juízes que seriam totalmente desnecessários por tais critérios. Quanto à confirmação da autoridade dos Juizes, poderia ser firmada por qualquer vitória militar, mesmo que não houvessem milagres visíveis.

  5. É suposição comum entre os cessacionistas que os milagres ocorridos estão citados na Bíblia, pelo menos aqueles anteriores a Cristo. Mas isso é falso. Certamente a maioria dos profetas não teve suas palavras registradas, e qualquer profecia verdadeira é um milagre. Todo tipo de milagre pode ter ocorrido sem ter sido registrado, a Bíblia nunca afirmou ser uma narrativa exaustiva, e muitos milagres podem ter ocorrido mesmo em outros lugares, longe de Israel.

  6. Supõem muitos cessacionistas que o único objetivo da expulsão de demônios é servir de sinal. Mas várias pessoas que vieram a ser crentes em Yeshua foram anteriormente endemoninhadas, e não poderiam crer sem serem primeiro libertas. Assim os cessacionistas absolutos promovem o descumprimento da Escritura Sagrada que diz “ide por todo mundo e pregai o evangelho a TODA criatura”, pois querem proibir que se expulsem demônios o que equivale a proibir que se pregue aos endemoninhados. Não só negam assim o testemunho de todo ex-endemoninhado que já se tornou crente, mas ocultam o poder de Deus, se é que crêem nele.

  7. Como já argumentei no primeiro capítulo, negam os cessacionistas a história unânime das igrejas cristãs, pois desde o início houve exorcismo e ritos de cura, sendo a própria extrema-unção (como vários ritos nas igrejas reformadas ) um rito de cura que mudou de significado com o tempo, baseado que foi inicialmente no ensino de Tiago sobre a unção dos doentes.

  8. Dizem eles, seria desnecessária a prova do poder divino por meios de sinais, posteriormente à época dos apóstolos, visto que o ser humano de tempos posteriores, sendo superior intelectualmente, não precisa de sinais. Espantosamente, dizem isso assim, de cara lavada, aplicando tal argumento a uma infinidade de situações de evangelização, em épocas, culturas e subculturas diferentes. Quão sábio deve supor-se alguém para usar tal argumento, e quão ignorante precisa ser da história dos povos. Ou pior, quão embotado está seu senso, pela necessidade de justificar sua própria visão de mundo.

  9. Por último, há um único argumento do cessacionista que é sério e bem firmado na Bíblia. Mas tem o defeito, para os cessacionistas, de não conduzir necessariamente à sua doutrina. É fato bem estabelecido que a ação visivelmente sobrenatural do Eterno, ao longo do tempo, variou bastante. Mas isso não prova a validade do cessacionismo, nem mesmo na sua forma relativa (a única que tem presença na história da Igreja, ao contrário dessa fraude moderna que é o cessacionismo absoluto). Pelo contrário, se a intensidade dessa ação arrefeceu várias vezes, e aumentou posteriormente, isso parece indicar que sua variação é imprevisível para a mente humana, e nada garante que não poderá aumentar em qualquer tempo. Além disso, mesmo em épocas de menor ocorrência, há relatos de tal ação.

quarta-feira, 5 de março de 2008

João Batista é 10

Para relaxar:
http://sophismwatch.blogspot.com/2008/02/piada.html
http://sophismwatch.blogspot.com/2008/02/hillary-o-anticristo.html

Qual o propósito da propaganda dentro dos países comunistas?

A última postagem do excelente blog "Resistência":

I'll be back soon, folks

In my study of communist societies, I came to the conclusion that the purpose of communist propaganda was not to persuade or convince, nor to inform, but to humiliate; and therefore, the less it corresponded to reality the better. When people are forced to remain silent when they are being told the most obvious lies, or even worse when they are forced to repeat the lies themselves, they lose once and for all their sense of probity. To assent to obvious lies is to co-operate with evil, and in some small way to become evil oneself. One's standing to resist anything is thus eroded, and even destroyed. A society of emasculated liars is easy to control. I think if you examine political correctness, it has the same effect and is intended to.

-Theodore Dalrymple

http://nemersonlavoura.blogspot.com/