segunda-feira, 28 de abril de 2008

MEDINDO O UNIVERSO II

PARALAXE

No primeiro artigo desta série, mostramos que os astrônomos devem necessariamente obter as informações dos objetos de seu estudo através das radiações emitidas diretamente por eles (ou algo próximo ou atrás deles). Queremos dizer sobre aquilo que existe fora do nosso pequeno sistema solar. Os objetos em órbita do sol estão tão próximos (no máximo, algumas horas-luz), que podem ser alcançados diretamente por sondas espaciais, que pela sua grande velocidade, os alcançam em poucos anos, e transmitem uma grande quantidade de informações à Terra.

Falaremos neste artigo sobre a medição direta de distâncias, pelo método da paralaxe. Não é um assunto difícil, pelo contrário, faz parte do cotidiano de toda pessoa que enxerga normalmente, e não entrarei em detalhes matemáticos. O leitor certamente já reparou que ao focar objetos distantes, qualquer objeto próximo que esteja na frente fica com a imagem duplicada. Possivelmente o leitor já reparou que o efeito é tão menos pronunciado quando mais longe estiver este objeto próximo. Colocando um dedo próximo aos olhos e focando algo mais longe, o leitor reparará que ao afasta-lo, a distância entre as imagem duplicadas diminui (mas não de forma constante). Quando o objeto mais próximo está suficientemente longe, a distância entre as duas imagens é tão pequena que já parece uma imagem só. Deve ser evidente ao leitor que o efeito é causado pelo fato de termos dois olhos e não ocorre quando fechamos um deles. Pois bem, este efeito se chama paralaxe, e a distância angular entre as imagens guarda uma relação matemática precisa com a distância do objeto em primeiro plano e com a distância entre os receptores de imagem (nossos olhos). Um sistema óptico qualquer que tenha dois receptores de imagens permite, por tal relação matemática, o cálculo da distancia do objeto em primeiro plano, sendo previamente conhecidos a distância entre os receptores e o ângulo entre as imagens do objeto próximo. É importante que maiores distâncias entre os receptores acarretam maiores (mais mensuráveis) paralaxes. Se meu sistema de medição de distâncias estiver operando no limite de sua capacidade (margem de erro muito próxima da medida do angulo), posso aumenta-la pelo aumento da distância entre os receptores. Se o sistema for computadorizado, melhor ainda, pois poderá fornecer instantaneamente a distância de todos os objetos próximos que aparecem na imagem. Maiores informações sobre o assunto, em forma bastante didática, podem ser encontrados em: http://astro.if.ufrgs.br/dist/ .


HISTÓRIA DA PARALAXE NA ASTRONOMIA

Anteriormente a Galileu, os europeus consideravam a Terra uma esfera fixa no centro do Universo, em torno da qual vários corpos faziam órbitas complexas, cercados por uma superfície dura cravada de luzes, que seriam as estrelas, consideradas “fixas”. Quando Galileu propôs que as “estrelas fixas” não eram tão fixas assim, e que se distribuíam aleatoriamente pelo espaço, e não por uma superfície, seus opositores argumentaram (corretamente) que ele ficava devendo uma explicação para a ausência de paralaxe das estrelas mais próximas, contra o fundo das mais distantes. Galileu argumentou que as distâncias das mais próximas eram tão grandes que impediam a medição dos ângulos de suas paralaxes (com o instrumental da época). Hoje sabemos que sua explicação é correta, mas na época, a idéia de distâncias assim tão grandes deve ter parecido irreal a todos (inclusive a Galileu). Qual a máxima distância para a qual a paralaxe é mensurável? Para responder tal pergunta, é preciso saber qual a máxima distância entre os receptores. Séculos atrás, os astrônomos já haviam percebido que a máxima distância entre seus telescópios era de aproximadamente 300 milhões de quilômetros (diâmetro da órbita da terra, para o qual se obtém a chamada paralaxe heliocêntrica, cuja segunda medição só pode ser realizada, é claro, depois decorridos seis meses, quando a terra está à máxima distancia da sua posição na primeira medição). A primeira medição correta de paralaxe estelar foi a da estrela 61 Cygni, feita por Bessel, no século 19. Hoje somos capazes de medir, com boa precisão, a distância de estrelas a até algumas centenas de anos-luz da terra, que apresentam paralaxes na ordem de milisegundos de grau. Considerando que cada ano-luz corresponde a aproximadamente 9,46 trilhões de quilômetros, isto pode parecer bastante, mas é uma pequena fração do diâmetro de nossa galáxia, a Via-Láctea, de mais de 80.000 anos-luz. O leitor deve estar se perguntando como se medem distâncias de objetos que não apresentam paralaxe mensurável. Não se medem, estimam-se, e é isto que veremos no próximo artigo da série

Nenhum comentário: