domingo, 26 de outubro de 2008

UMA VIRTUDE CHAMADA BONDADE

Lembro que, quando eu era criança, a bondade parecia-me a própria essência do bem. Julgava as pessoas pela bondade que tinham ou aparentavam e espantava-me que o Todo Poderoso, conforme mostrava a Bíblia, desse muitas vezes mais importância a outras qualidades. Creio que isto é natural de uma criança pequena, sua segurança está firmemente alicerçada na bondade que sente em sua mãe.
Mas não demora muito para a criança perceber que o convívio com outras pessoas exige outras qualidades como firmeza, prudência, respeito, compreensão, coragem, sabedoria, fidelidade, domínio próprio, ordem interna, limpeza mental, modéstia, ânimo, humildade, justiça. Mutas dessas qualidades, sinceramente, são muito, mas muito mais difíceis de serem exercidas que a bondade e são tão importantes quanto. Decepcionei-me comigo mesmo ao longo dos anos, quando fui assumindo responsabilidades e percebendo que embora algumas pessoas considerassem-me bonzinho, eu tinha uma desesperadora carência de outras virtudes importantes. Muita paulada na cabeça para aprender, e não aprendi nem o suficiente.
Mas por falar em virtudes, um engano comum é pensar que os vícios sejam opostos simétricos daquelas. São na verdade perversões das virtudes e é de se esperar que a cada virtude corresponda pelo menos uma forma de corrupção sua, gerada pela sua aplicação desequilibrada (desconectada de outras virtudes necessárias na situação). Considerando que hoje em dia a bondade é arroz de festa, está com a bola toda, é super-hiper-bem-considerada, é natural esperar que a simulem ou pervertam (por seu uso em desconexão com outras virtudes menos bem vistas). Além disso, a atual “moral” propagada pelos formadores de opinião é essencialmente finalista, e concentra-se fortemente na construção de um “glorioso futuro coletivo” promovido por um super-estado-babá e suas ONGs do G e no combate a quem não acreditar muito nessa balela. Professores, jornalistas e escritores estão geralmente na linha de frente da promoção disso. Em tal ambiente, é natural uma promoção ainda mais acentuada da falsa bondade (por perversão ou fingimento).
Só para não deixar o assunto solto no ar, vou dar como exemplo histórico o pacifismo nas nações ocidentais, fortemente promovido por intelectuais e grupos de esquerda, quando do crescimento militar da Alemanha nazista. Milhares de jovens na França, EUA, Inglaterra, foram tomados de um súbito ardor pacifista, exigindo de seus governos acordos de paz que os impedissem de armar-se o suficiente para enfrentar a Alemanha. É interessante que via de regra o militante pacifista não tem a menor idéia dos motivos da escolha do seu objetivo particular. Num mundo de tantos confrontos, como os organizadores de uma passeata escolhem um governo em particular para pressionar? Um pacifista francês da década de 30, vendo uma movimentação geral das classes falantes em “favor da paz”, não sabia realmente porque pressionava o governo de seu país a uma atitude mais passiva, apenas sentia-se bem consigo mesmo, imaginando-se uma pessoa particularmente generosa. Como sabemos hoje, o motivo por que as classes falantes eram “em favor da paz” naquele momento, foi simplesmente um acordo secreto entre Hitler e Stalin, que dava ao primeiro do “direito” de esmagar toda oposição na Alemanha, armar-se até os dentes produzindo secretamente suas armas em território soviético, (em oposição ao estabelecido no acordo de Versailles), e barbarizar à vontade na Europa ocidental e central. Os próprios “intelectuais” que receberam ordens de promover “a paz” não tinham idéia dos detalhes do acordo, e a maioria dos seus colegas simplesmente entrou na onda de “serem bonzinhos” e parecerem afinados com os “progressistas”. Mas um dia a criatura voltou-se contra o seu criador (Stalin), e repentinamente, as esquerdas deixaram de ser “pacifistas” e se uniram na luta contra Hitler. Este caso exemplifica bem o quanto a “bondade” pode ser uma forma requintada e perversa da maldade, quando tornada um ente isolado de outras virtudes como a percepção, prudência, firmeza, humildade, senso de proporções (essencial à justiça) e sabedoria.
Mas a história tem se repetido de novo, de novo e de novo. Muitas vezes, quando eu leio sobre alguma manifestação “pacifista” nos jornais, percebo, pelas informações que já tenho, que grupos estão promovendo e financiando e com que intenções. Via de regra, “pacifismo” tem um lado, o lado dos mais violentos, dos ditadores, daqueles que não podem ser muito influenciados por manifestações públicas. Jamais entraria numa onda dessas sem entender primeiro o que está acontecendo. Em particular, se morasse no Rio de Janeiro, jamais participaria das manifestações “pela paz” daquele sujeitinho apoiado pela Rede Globo e por certas fundações estrangeiras.

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