segunda-feira, 25 de maio de 2009

CONHECE AO SENHOR – PARTE 1

“Julgou a causa do aflito e do necessitado; então lhe sucedeu bem; porventura não é isto conhecer-me? diz o Senhor.” Livro do profeta Jeremias, capítulo 22, verso 16. a respeito do bom rei Josias.
“Eis que vem dias, diz o Senhor, em que farei um concerto novo com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto que fiz com seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha Lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará alguém mais a seu próximo nem alguém a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o mais pequeno deles até ao maior, diz o Senhor, porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.” Livro do profeta Jeremias, capítulo 31, versos 31 a 34.
“E ele [Yeshua] disse-lhes: Por isso, todo o escriba instruído acerca do reino dos céus é semelhante a um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” Evangelho segundo Mateus, capítulo 13, verso 52.
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” Evangelho segundo João, capítulo 14, verso 26.
“Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seus coração está longe de mim. Mas em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens.” Palavras de Yeshua, no Evangelho segundo Mateus, capítulo 15, versos 8 e 9.
“ E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.” Palavras de Yeshua, no Evangelho segundo Mateus, capítulo 13, versos 14 e 15.
“Digo pais: Porventura tropeçaram, para que caíssem? De modo nenhum, mas ´pela sua queda veio a salvação aos gentios, para os incitar à emulação. E se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude! Porque convosco falo, gentios, que enquanto for apóstolo dos gentios, glorificarei o meu ministério; para ver se de alguma maneira posso incitar à emulação os da minha carne [israelitas] e salvar alguns deles. Porque se a sua rejeição é a reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos? E, se as primícias são santas, também a massa o é: se a rais é santa, também os ramos o são. E, se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles, e feito participante da raiz e da seiva da oliveira, não te glories contra os ramos; e, se contra eles te gloriares, não é tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti. Dirás pois: os ramos foram quebrados para que eu fosse enxertado. Está bem; pela sua incredulidade foram quebrados, e tu estás em pé pela fé; então não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também.
Considerai pois a bondade e a severidade de Deus: para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a benignidade de Deus, se permaneceres na sua benignidade; de outra maneira, também tu serás cortado. E também eles, se não permanecerem na incredulidade, serão enxertados; porque poderoso é Deus para os tornar a enxertar. Porque, se tu fostes cortado do natural zambujeiro e, contra a natureza, enxertado na boa oliveira, quanto mais esses, que são naturais, serão enxertados, na sua própria oliveira! Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos); que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado. E assim, TODO O ISRAEL será salvo, com está escrito: 'De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades. E este será o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados.' Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque OS DONS E A VOCAÇÃO DE DEUS SÃO SEM ARREPENDIMENTO.” Carta do apóstolo Paulo aos romanos, capítulo 11, versos 11 a 29.


CEGUEIRA

Para começar, peço desculpa aos leitores por ter colocado alguns trechos em caixa alta. Não considero os meus leitores como analfabetos funcionais, mais ficarei feliz em abrir os olhos mesmo a alguns destes que por acaso passarem por aqui. Vamos às minhas considerações.

Há bastante tempo, tenho conversado com minha esposa e com outras pessoas a respeito da dificuldade de muitos evangélicos, inclusive pastores, em entender muito da Bíblia. Não falo de pessoas tão faltas de conhecimento que isto não deva ser levado em conta. Falo de pessoas que realmente estudaram teologia. Alguns dirão que falta discernimento espiritual para compreenderem as coisas mais profundas. É verdade, falta direcionamento espiritual. Já dizia o apóstolo, que os crentes são guiados pelo Espírito do Eterno. É certo que para ser assim dirigido, o crente (incluindo os pastores) devem permanecer quietos algum tempo diante do Eterno (João 14: 26). E hoje pouca gente se permite tal tempo. Quanto aos atuais ministros do evangelho, ao contrário dos apóstolos, muitos consideram sua ocupação mais importante servir as mesas, no lugar de dedicar-se à oração e ao estudo da Palavra Santa (quem conhece o livro dos Atos dos apóstolos, sabe do que estou falando). Não penso que os ministros de outras tradições cristãs estejam em melhor situação.

Entristece-me que “métodos” e “estratégias” humanos sejam considerados mais importantes que ouvir a voz do Espírito. Todo tipo de engano e manipulação tem entrado na Igreja, pois os ministros não identificam o real problema: Eles são órgãos do corpo sem comunicação com a Cabeça. Leitura da Palavra, oração e meditação são a resposta. Quem age assim, ao ouvir seus irmãos, percebe as palavras que estão de acordo com o Eterno, e as que são da carne. Deixa de ter só coisas velhas em seus tesouros, só conceitos que aprendeu há muito tempo, e que dificilmente se tornam verdadeiros em sua vida (Mateus 13: 52).

Mas a falta de discernimento chega a ser tanta, que não se pode explicar apenas pela leniência no estudo e na meditação. Parece mais que distração, parece haver uma venda nos olhos de muitos ministros e crentes. A Bíblia fala alguma coisa sobre este tipo de entenebrecimento dos sentidos? Epa! Fala sim, mas não pode ser . . . são palavras de Jesus Cristo aos judeus (Mateus 13: 14 e 15), mais especificamente aos fariseus. É isso mesmo, aos judeus, aqueles “desprezíveis” “hipócritas”, gente que é incapaz de compreender a doçura da “vida espiritual”, presos que estão à “letra fria” da “ultrapassada” “lei de Moisés”.

'Ei, espere aí', dirá o leitor, 'não me ofenda, não sou um anti-semita. Não estou preso a esses estereótipos medievais'. Pode ser que não. . . conscientemente. Mas você não pode negar que nossa cultura é anti-semita. Considere que talvez, algo do que pensa a atual igreja cristã tenha profunda raiz anti-semita. É este ponto que procurarei explorar, tirando daí algumas conseqüências.


HISTÓRIA

Talvez o leitor não saiba disto, mas os escritos gregos antigos que falam da religião judaica (pelo menos aqueles que chegaram até nós) não são muito lisonjeiros. De uma forma geral, procuravam depreciar o culto hebreu. Falavam, por exemplo, de um suposto bode que seria cultuado dentro do Lugar Santíssimo, no templo em Jerusalém. O tom geral desses escritos varia do desprezo à oposição. Pesquise o leitor a respeito, não é difícil comprovar o que digo. Essa má vontade primordial, essa tendencia à detração, deve ficar na mente do leitor, para que possa compreender minha argumentação.

Agora vejamos como começou aquilo que hoje é conhecido como “cristianismo” (uma palavra de sentido bastante amplo, que pode englobar, em suas várias acepções, coisas até incompatíveis). Haviam muitos Escritos proféticos na Bíblia hebréia (a Tanach, que hoje é mais conhecida como “Antigo Testamento”) a respeito de um personagem futuro, o Ungido (Messiah, transliterado do hebraico, ou Cristo, transliterado da tradução grega). Para compreender isso, deve-se saber que o ato de ungir uma pessoa (derramar azeite de oliva com certas ervas aromáticas sobre a cabeça) era uma cerimônia tipicamente israelita, pela qual profetas, reis e sacerdotes eram comumente estabelecidos. O ato tem sido interpretado como uma invocação ao Deus de Israel, pedindo que Seu Espírito guie e proteja a pessoa para que esta possa desempenhar bem sua função. Este Deus de Israel é YHWH, o “Eu Sou”, normalmente entendido como aquele que existe sem ser causado. Não me perguntem a pronúncia, pois os próprios judeus não têm certeza sobre isto.

A aparente incongruência entre os Escritos proféticos sobre o Messiah levaram, na antiguidade, alguns estudiosos hebreus a proporem a existência de dois ungidos (Messiah) um ditoso, reinando para sempre, outro sofredor, morto violentamente, mas ambos igualmente justos servos do Altíssimo. O livro do Profeta Isaías atribui ao Messiah sofredor a capacidade de servir como sacrifício expiatório pelo povo, de modo a trazer a este perdão, restauração e cura. A palavra que reunia estas três coisas era salvação, o que torna o Messiah o salvador. É essencial entender que isto não foi uma invenção cristã, mas algo vindo do judaísmo. O Talmude chega a mostrar o Messiah como um leproso e desprezado, explicando assim este texto profético. Outro ponto de difícil compreensão nos Escritos proféticos é a atribuição de nomes e características divinas ao Messiah. Há um único outro personagem (além de YHWH) a quem é atribuída divindade na Tanach: Aquele a quem certo targum chama de Palavra de YHWH, explicando as teofanias que surgem no começo da Tanach (pesquise).

Muitos supostos Messiah foram nomeados entre os judeus, mas em cada caso revelaram-se uma decepção. Por isto, aqueles judeus que são crentes na palavra profética, continuam esperando por ele. Outros criaram uma nova interpretação, segundo a qual o Ungido seria uma figura dos melhores entre o povo de Israel. Esta interpretação parece ter surgido como uma reação anti-cristã. Muitas interpretações dentro do judaísmo e do cristianismo parecem ter surgido como negação um do outro.

Para compreender a origem do cristianismo, devemos entender que o Caminho, nome antigo do grupo de judeus que criam que Yeshua é o Messiah, surgiu como um grupo religioso judaico. Isso é tautológico. Mas quero dizer num sentido mais estrito ainda. Eles se viam como judeus seguidores do Ensino (Torah de Moisés). Não eram um grupo de judeus que abandonaram o judaísmo. Mais do que isto, praticamente cada uma de suas doutrinas e práticas pode ser rastreada até suas raízes hebraicas e as doutrinas de seu mestre também. Não eram nem mesmo uma revolução dentro do judaísmo, mas apenas desenvolvimento “natural” dentro dele. É difícil para nós, gentios, percebermos isto, mas todos os ensinos principais de Yeshua eram um diálogo com rabinos de sua época e anteriores. Muito do que ele disse não era novo, embora boa parte não fosse pensamento dominante dentro do judaísmo da época, bastante dividido.

No judaísmo messiânico (o Caminho) a ressurreição de Yeshua integra os textos proféticos conflitantes, pois tendo ressuscitado em corpo glorificado, aquele que foi o servo sofredor pôde tornar-se Rei Eterno. Isto é peculiar a esta forma de judaísmo, mas não foi buscado como uma explicação teológica, e sim surgiu do fato da ressurreição. Outra crença peculiar é a integração entre os dois personagens de atributos divinos, o Messiah e a Palavra de YHWH. Até onde eu saiba, isto nunca tinha sido proposto antes de João ter feito esta integração, mas depois de feita, parece a explicação mais “natural”.

Este grupo religioso judaico depara-se, de repente, com uma situação inusitada. Surgem pessoas de outros povos, crentes no Messiah. Primeiramente samaritanos, isto é pessoas que seguem uma outra religião, intimamente aparentada com o judaísmo, mas diferente. São descendentes das tribos israelitas do norte, que se misturaram com outros povos trazidos pelo império assírio para Israel. Sua religião também era nacional, como a judaica, seguem uma versão da Torah um tanto modificada, não aceitam os Escritos e os Profetas (as outras duas partes da Tanach) e adoravam em Samaria, e não no segundo Templo, reconstruído por Esdras em Jerusalém. Se nem a Tanach completa eles aceitavam, certamente passavam longe do ensino dos rabinos. Impressionantemente, os judeus crentes no Messiah Yeshua aceitaram os samaritanos como seus irmãos, superando séculos de oposição entre os povos, sem exigir ou sugerir que devessem separar-se dos seus compatrícios e adotar o judaísmo propriamente dito. Até onde eu saiba, nenhum autor escreveu sobre isto e é estranho que um fato tão importante não tenha chamado a atenção.

Posteriormente, alguns gentios não samaritanos conhecem a fé no Messiah. Alguns crentes, vindos do farisaísmo, entendem e passam a ensinar que a os gentios crentes não terão “salvação” sem entrarem para o judaísmo primeiro (e por judaísmo queriam dizer também as interpretações mais aceitas entre os rabinos fariseus). A congregação dos crentes reúne-se em Jerusalém, desautoriza tal ensino e exige dos novos crentes apenas o cumprimento das Leis de Noé para serem aceitos como irmãos (além de certos preceitos éticos considerados universais, mas que poderiam não ser percebidos por pessoas vindas do paganismo).

No base desta doutrina de abertura da relação com o Eterno fora do judaísmo, está a percepção de que a Torah, princípio do judaísmo, contém aspectos particulares ao povo judeu no exercício de sua função nacional. Ligada à terra, ao povo e à história hebréia e, ao mesmo tempo, contendo as lições mais universais sobre o homem e sua relação com o Eterno, com seus semelhantes, e consigo mesmo, a Torah é um dilema que nunca havia (nem tem sido, desde então) suficientemente resolvido. Em toda sua formalidade, não é portável para fora da antiga nação judaica. Mas não portar tal Tesouro para todos os outros povos seria um crime. A doutrina paulina e o judaísmo de Akiva são duas formas diferentes de transpor a Torah para fora do judaísmo nacional. A doutrina de Akiva tenta transpô-la para uma religião comunitária de exílio. A doutrina de Saul (Paulo) torna-a pessoal, portátil. Um cristão pode viver oculto, em solidão, em qualquer lugar do mundo, sob qualquer regime, em qualquer família, sob qualquer condição cultural ou econômica, e manter-se cristão. Sua Torah está tão dentro dele, que ele pode viver sem símbolos dela.

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