sábado, 10 de janeiro de 2009

DIREITA

Um bom tempo atrás, conversando com pessoas próximas, tive dificuldade em dizer o que é direita. É estranho que eu tenha tido essa dificuldade, pois direita se define como oposição à esquerda, isto é como oposição ao movimento revolucionário, entendido aqui na acepção que Olavo de Carvalho lhe dá. Pensando dessa forma, é muito fácil perceber o que eu entendo como direita, basta entender qual é o sentido real das ações do movimento revolucionário, e expressar com certa objetividade o que seria contrário a isto. É claro que as intenções declaradas do movimento revolucionário, em qualquer de suas formas, seja o marxismo-leninismo, o nazismo, o maoísmo, ou qualquer outra, são irrelevantes para este propósito.

Sendo eu um direitista, tentarei descrever para o leitor meus pensamentos a respeito de vários assuntos, nos quais eu me vejo em oposição ao movimento revolucionário, e aos seus movimentos de apoio.

1.O direitista crê numa sociedade leve e num governo leve, quase uma forma mais branda de anarquismo. Tem um certo temor de que um número excessivo de regras ou um controle excessivo do governo (e da “sociedade civil organizada”) sobre as pessoas, tire delas a liberdade de falar, de pensar, e até mesmo a percepção da realidade. O direitista acredita na Lei natural, isto é acredita que as regras devem considerar a natureza intrínseca da condição humana e a percepção da Justiça dentro do homem.

2.Por causa disso, o direitista é desconfiado quanto ao aumento do número de leis e regulamentos. Quando uma nova norma é proposta, o direitista pensa se não seria um bem, ou um mal menor que aquela lei não existisse. Nós tendemos sempre a preferir fortemente soluções institucionais e legais mais simples e menos coercitivas. E estamos certos quanto a isso, pois soluções legais extremamente complexas e altamente restritivas geralmente são um desastre.

3.Pelo mesmo motivo, o direitista prefere que a atuação do governo na economia seja mais limitada. Mas, vejam só: para nossa sorte, a economia funciona melhor quando o governo não a controla excessivamente. Os regimes de maior intervenção do governo na economia foram os de menor liberdade e maior carência de recursos, inclusive comida.

4.Mas uma sociedade e um governo leves pressupõem que as pessoas terão de tomar mais decisões por si mesmas, serem menos tuteladas. Isso pressupõe que as pessoas terão de ser responsabilizadas pelos resultados dos seus atos. Um direitista tende, portanto, a ser menos “bonzinho” e “compreensivo” com os erros e crimes das pessoas. Mas, que sorte a nossa, as sociedades nas quais se exige das pessoas a responsabilidade pessoal pelos seus atos, são mais pacíficas e se desenvolvem melhor.

5.Sendo mais desconfiados em relação ao funcionamento das instituições públicas em geral, e do governo em particular, os direitistas rejeitam propostas completas de reconstrução da sociedade, por governos, supra-governos e seus anexos.

6.Entendemos que o ser humano não teria capacidade suficiente para definir de maneira clara as conseqüências da infinidade de fatores atuais, para determinar de maneira inequívoca o curso da história nos próximos séculos. E nem mesmo é provado que o conjunto total dos fatores atuais determina inequivocamente todos os fatos futuros.

7.Portanto, não estranhamos que o curso da história tenha seguido uma direção tão diferente da prevista por qualquer ideologia. Estranhamos sim é que existam muitas pessoas que depositam toda sua fé nas previsões de ideologias cheias de erros de análises, erros sobre os fatos, e até má-fé. Apesar de tudo, tais ideologias não só são ainda amadas pelos “intelectuais”, mas todos os crimes cometidos em nome delas são tidos como coisinhas insignificantes pela maioria dos formadores de opinião.

8.Considerando que a economia é apenas um aspecto do homem e da sociedade humana, nós direitistas podemos ficar atentos a toda forma de opressão. Sabemos que a opressão pode vir pela busca de poder, e não só pela busca de dinheiro, e que a inveja e o desejar mal ao seu vizinho são forças tão ou mais poderosas que o desejo de enriquecer. Sabemos que há regimes de força, onde não há mecanismos de resistência da sociedade aos desatinos dos seus governantes (na verdade, tais mecanismos seriam ilegais em tais regimes). Contrariamente aos idiotas úteis, não nos causa espanto algum que tais regimes tenham se revelado extremamente opressores, ao ponto de serem genocidas na real acepção do termo.

9.Contrariamente aos socialistas, não vemos como um mal a derrocada econômica dos países socialistas. Seria um mal muito grande que regimes tão opressivos e genocidas fossem viáveis a longo prazo.

10.Sendo um cético a respeito do planejamento de longo prazo e da capacidade de previsão do homem, o direitista é relativamente apegado às tradições. Ele acredita que as mudanças mais lentas são geralmente melhores que as repentinas, pois o ser humano precisa de tempo para avaliar os efeitos reais de seus atos, freqüentemente muito diferentes dos efeitos esperados.

11.Por não crermos excessivamente na capacidade humana de previsão, e mais ainda, por crermos no direito natural à liberdade, cremos que a engenharia social é um mal terrível, e seus proponentes e executores deveriam ser denunciados e combatidos.

12.Por crermos no valor da liberdade humana, consideramos como geralmente prejudiciais mecanismos de tutela sobre pessoas adultas e sãs, nisto incluídas as polícias do pensamento (censura prévia, “politicamente correto”, domínio da imprensa pela expulsão dos jornalistas divergentes, etc).

13.Sabemos e não temos preconceitos que nos impeçam de afirmar, que a terrível perseguição que os regimes socialistas executaram contra grande parte da população, não se limitou ao combate a elementos que pudessem desestabilizar tais regimes. Na quase totalidade dos casos, o poder daqueles que foram perseguidos era desprezível, e via de regra não eram pessoas que poderiam sequer sonhar em desestabilizar o governo. O principal motivo de tão grande perseguição, qual nunca se viu igual em toda a história, foi simplesmente a mentalidade assassina e paranóica dos líderes socialistas e a consciência de que dirigiam um regime essencialmente mau, ao qual o povo combateria se pudesse ter real liberdade.

14.Entre outros motivos, por não crermos na capacidade humana de conhecer o futuro, deploramos e odiamos toda “moral” finalista, isto é, a que julga os atos dos homens pelas suas supostas contribuições para a execução de um “grande plano para o bem da espécie humana”. Em particular, julgamos como criminosos, assassinos e genocidas os socialistas que agiram e agem como criminosos, assassinos e genocidas.

15.Não sentimos nenhuma necessidade de aparentar a falsa “isenção” exigida pelos “politicamente corretos”. Podemos simplesmente criticar os regimes socialistas sem ter de fingir que acreditamos que qualquer mal que eles tenham praticado tem necessariamente que ser contrabalançado por algum mal equivalente em regimes não socialistas. Não nos sentimos na obrigação de acreditar em declarações de intenções de socialistas em desacordo com tudo que conhecemos da realidade de seus atos. Não sentimos obrigação de nos curvarmos à chantagem do vitimismo. Não sentimos obrigação de nos curvarmos às loucuras do “politicamente correto”. Não sentimos obrigação de acreditar em “pacifismos” de um lado só, com toda aparência de guerra de propaganda. Não sentimos obrigação de fazer vista grossa aos genocídios que ocorreram no passado e que ocorrem hoje, praticados por socialistas ou incentivados por eles. Não sentimos obrigação de nos envergonharmos de nossas crenças religiosas conforme os sacerdotes do esquerdismo as declarem culpadas. Em particular, aqueles direitistas que são cristãos não sentem obrigação de se envergonhar de Cristo, por ordem dos esquerdistas. Não sentimos obrigação de considerarmos qualquer intelectual orgânico superior a nós, na vã esperança de escaparmos de seu ódio, nem sentimos obrigação de considerar mentirosos, genocidas e colaboradores de genocidas como o padrão moral superior da humanidade.

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