Uma questão freqüentemente (mal) colocada no meio evangélico é se o Bem é bom porque O Eterno o aprova ou se o Eterno o aprova por que é bom. Um argumento a favor da primeira possibilidade é que nada existe “antes” do Criador de todas as coisas. Portanto, não pode haver nenhum Bem absoluto anterior a Deus. Ou dizendo de outra maneira, Deus não é governado por nenhum ente fora dEle. Não pode portanto subordinar-se ao Bem, à Lógica ou a qualquer outro suposto Ente pré-existente. Tal argumentação é o cerne da doutrina calvinista, em suas múltiplas formas. O leitor, sabendo do meu arminianismo, já deve estar prevendo minha oposição a tal idéia. Em sua forma mais pura, tal idéia faz do Eterno o autor de todo mal e impede que o Bem seja observado pelo homem, visto que todas as coisas ocorrem por determinação de Deus e tudo que Deus faz é bom por definição. Incidentalmente, tal visão do mundo proíbe que se siga a máxima bíblica, escrita pelo salmista: “provai e vede que Ele é bom”. O que é verdadeiro por definição, não pode ser provado.
A visão do “deus oculto” de Lutero, um ente que me parece puro capricho e nenhuma bondade, é talvez a forma mais forte dessa doutrina. Em sua base, uma especulação escolástica anterior de pensadores que não podiam conciliar a existência de algum caráter divino, com Sua liberdade. O “deus livre” de Lutero, seguindo estas especulações escolásticas, é um deus sujeito a seus próprios caprichos.
Um parêntesis para uma reminiscência. Há muito me chama a atenção um texto bíblico em que o Eterno declara “Vós sois as minhas testemunhas, diz o SENHOR, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá. ” (Livro do Profeta Isaías, capítulo 43, verso 10). Quando eu era criança, tal texto parecia uma referência cronológica, e fazia parecer que houve um tempo em que não existiu deus algum. É claro que eventualmente, temos de abandonar a visão cronológica sobre a Eternidade, e tais questões deixam de se colocar assim.
Mas voltemos a Lutero e aos Calvinistas. Um dos elementos centrais de sua doutrina, embora talvez eles mesmos não tivessem noção disso, era a “simplicidade de Deus”. Este era um princípio adotado generalizadamente entre os teólogos cristãos, e não é auto-evidente nem bíblico. Sua origem, até onde os historiadores da filosofia discernem está na filosofia grega (muito posterior, portanto, às origens do pensamento judaico sobre Deus). A idéia de que Deus é simples entrou na teologia cristã diretamente da filosofia grega e é irrelevante para nossos propósitos debater se e quando ela teve alguma influência no pensamento judaico. Cabe aqui um parêntesis: A discussão entre judeus e as correntes principais da teologia cristã não é sobre a simplicidade da essência de Deus. A discussão é sobre se há mais de uma pessoa em Deus, o que não afeta a questão que discutimos aqui.
Sobre certos entes, que muitas vezes a filosofia e a intuição consideram como preexistentes (o Bem, o Amor, a Lógica, a Justiça, etc), minha percepção pessoal é que eles preexistem, não isolados, mas em relação uns com os outros. Além de existirem em relacionamento, existem em uma pessoa (conforme nos ensina a Bíblia), a qual chamamos de “O Eterno” ou Deus. Portanto respondo à questão inicial dizendo que O Eterno quer o bem por que isto é bom, mas seu critério do que é bom está dentro de si mesmo, não por ser Ele um ser caprichoso, mas por ser Ele a própria personalidade da Bondade. A afirmação do apóstolo João “Deus é amor”, poderia ser escrita, segundo o meu pensamento, como “Deus é Amor”. É um relação ontológica, não a descrição de uma característica.
domingo, 28 de setembro de 2008
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