As igrejas batistas tem uma forma de organização bastante diferente da maioria dos outros grupos religiosos. Cada igreja batista é autônoma em relação às outras igrejas batistas, tendo como única ligação um certo corpo doutrinário em comum (que geralmente é tão pouco específico, que convivem na mesma igreja irmãos calvinistas e arminianos, pós-milenistas, amilenistas e pré-milenistas), e também algumas organizações criadas pela cooperação entre as igrejas. O governo é feito pela própria congregação (o povo pertencente à igreja), representada por um conselho ou uma diretoria, eleita por democracia direta. Todos os que recebem salários (inclusive pastores) têm seu rendimento determinado pela diretoria, que prestas contas periodicamente à congregação. Grande parte (ou a maior parte) do trabalho é voluntário, feito por pessoas comuns, que dispõem de algum tempo, e toda verba da igreja vem da própria congregação, sendo parte dela entregue, pelo povo, com finalidade específica, que obrigatoriamente deve ser respeitada pela diretoria. Entre as principais verbas “carimbadas” estão auxílio aos carentes e sustento dos missionários, seja pela própria igreja, seja por alguma associação de igrejas. Tais missionários são enviados a locais pouco evangelizados, com a finalidade de pregar o evangelho e implantar igrejas novas.
É freqüente nas igrejas batistas que o levantamento de verbas para missionários seja feito, principalmente, numa certa época do ano. Eu lembro de ter visto muitos cultos especiais, sempre na mesma época do ano, onde eram dados relatórios do trabalho dos missionários, e solicitada a contribuição do povo para o pagamento de seus salários. Eu achava interessante que, apesar de haverem muitos textos na Bíblia que falam de missionários e evangelização, geralmente o texto mais lido era o capítulo 10 da Carta de S. Paulo aos Romanos, nos versos 14 e 15. A implicação da leitura deste texto seria que não haverá salvação para as pessoas se não houver pregação do evangelho.
Bom, nada contra a pregação do evangelho, é um tema em que os autores do Segundo Testamento insistem bastante. Mas para quem lê com alguma atenção a Carta aos Romanos, está evidente que o significado dos versos citados é bastante diferente do suposto. Para expor sua argumentação, o emissário (apóstolo) Paulo usa o recurso de um debatedor fictício, que dialoga com ele, dando-lhe a oportunidade de apresentar seus argumentos como se fosse num diálogo. O argumento que ele está desenvolvendo é que grande parte do povo judeu não aceitou a mensagem de Deus. Neste ponto, o debatedor fictício coloca a possibilidade de que talvez a mensagem não lhes tenha sido apresentada, e é este o significado dos versos 14 e 15, dando a entender que não teria havido falha realmente do povo de Israel, ao que Paulo argumenta que eles ouviram sim a palavra do Eterno. Se alguém quisesse tirar algum ensino soteriológico deste texto, poderia ser perfeitamente o de que as pessoas não são condenadas se não ouvirem a palavra de Deus. Mas isto é precisamente o oposto da implicação que era dada na leitura deste texto, naquela época do ano.
Bom, mas alguém poderá argumentar que usar apenas esse texto para definir a doutrina da salvação (um termo de significado bastante amplo) na Bíblia é ir além do que se deve. É precisamente isso que quero dizer.
2 comentários:
O mesmo Paulo diz que Deus não leva em conta os tempos da ignorância. Logo, não se pode tirar conclusões muito precisas sobre a questão da salvação. Nesse ponto concordo com vc e com Paulo.
Mesmo assim, a pregação do evagelho é algo de suma importância.
Não nego isto. Só quero evidenciar a falha de usar esse texto como base doutrinária sobre o assunto.
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