quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Massas

"Diante de uma só pessoa, podemos saber se é massa ou não. Massa é todo aquele que não atribui a si mesmo um valor -- bom ou mau -- por razões especiais, mas que se sente 'como todo mundo' e, certamente, não se angustia com isso, sente-se bem por ser idêntico aos demais. (...)Quando se fala de 'minorias especiais', a habitual má fé costuma distorcer o sentido dessa expressão, fingindo ignorar que o homem especial não é o petulante, que se julga superior aos outros, mas o que exige mais de si mesmo que a maioria, ainda que não consiga atingir essas exigências superiores. E é indubitável que a divisão mais radical que deve ser feita na humanidade é dividi-la em duas classes de criaturas: as que exigem muito de si mesmas e se acumulam de dificuldades e deveres, e as que não exigem de si nada de especial, para as quais viver é ser a cada instante o que já são, sem esforço para o aperfeiçoamento de si próprias, bóias que vão à deriva."
Ortega y Gasset em A Rebelião das Massas

Blog "Bolkonsky espera"
http://duhem-quine.zip.net/index.html

Chesterton, esse exelente católico inglês.

Filosofia para a sala de aula - G. K. Chesterton (tradução de Roberto Mallet. )

O que o homem moderno precisa aprender é simplesmente que todo argumento tem em sua base uma suposição; isto é, algo de que não se duvida. É claro que você pode, se quiser, duvidar da suposição que está na base de seu argumento, mas nesse caso estará começando um argumento diferente com uma outra suposição em sua base. Todo argumento começa com um dogma infalível, e esse dogma infalível só pode ser discutido se recorrermos a algum outro dogma infalível; você jamais poderá provar seu primeiro enunciado, ou então ele não será o primeiro. Isso é o bê-á-bá do pensamento, que tem um ponto especial e positivo: pode ser ensinado na escola, como o outro bê-a-bá. Não começar uma argumentação sem antes declarar seus postulados é algo que pode ser ensinado em filosofia como é ensinado em Euclides, numa sala de aula comum com um quadro-negro. E penso que deveria ser ensinado de maneira simples e racional mesmo para os jovens, antes de saírem para as ruas e serem entregues à lógica e à filosofia dos meios de comunicação.
Muito da nossa confusão sobre religião e das nossas dúvidas advém disto: nossos céticos modernos sempre começam afirmando aquilo em que não acreditam. Mas mesmo de um cético queremos saber primeiro em que ele acredita. Antes de discutir, precisamos saber o que é que não se discute. E essa confusão aumenta infinitamente pelo fato de que todos os céticos do nosso tempo são céticos em diferentes graus da dissolução que é o ceticismo.
Agora, você e eu temos, espero, esta vantagem sobre todos esses hábeis novos filósofos: não estamos malucos. Todos nós acreditamos na Catedral de São Paulo; muitos de nós acreditam em São Paulo. Deixem-nos afirmar claramente este fato, que acreditamos em um grande número de coisas que fazem parte de nossa existência, e que não podemos demonstrar. E por ora deixemos a religião fora de questão. Afirmo que todos os homens sãos acreditam firme e invariavelmente em um certo número de coisas não demonstradas nem demonstráveis. Permitam-me apontá-las resumidamente:
1ª. Todo homem são acredita que o mundo ao seu redor e as pessoas que nele estão são reais, e não uma ilusão sua, ou um sonho. Nenhum homem começa a incendiar Londres na crença de que seu criado logo o acordará para o café da manhã. Mas o fato de que eu, emqualquer momento dado, não estou em um sonho não está demonstrado nem é demonstrável. O fato de que existe alguma coisa exceto eu mesmo não está demonstrado nem é demonstrável.
2ª. Todos os homens sãos acreditam não somente que este mundo existe, mas que ele é importante. Todo homem acredita que há em nós uma espécie de obrigação de nos interessarmos por essa visão ou panorama da vida. O homem são consideraria errado o homem que dissesse: Eu não escolhi esta farsa e ela me aborrece. Sei que uma velha senhora está sendo assassinada no andar de baixo, mas estou indo dormir. Que exista alguma obrigação de melhorar as coisas que não foram feitas por nós não está demonstrado nem é demonstrável.
3ª. Todos os homens sãos acreditam que há algo que chamamos eu, ou ego, que é contínuo. Não há um centímetro de matéria em meu cérebro que permaneça a mesma de dez anos atrás. Mas seu salvei um homem em uma batalha há dez anos atrás, sinto-me orgulhoso; se fugi, sinto-me envergonhado. Que haja algo como esse "eu" que permanece não está demonstrado nem é demonstrável. E isto é mais do que não demonstrado ou demonstrável, é matéria de discussão entre muitos metafísicos.
4ª. Por fim, a maioria dos homens sãos acredita, e todos os homens sãos na prática assumem-no, que eles têm poder de escolha sobre suas ações, e que são responsáveis por elas.
Seguramente é possível estabelecer alguns enunciados simples, modestos como os acima, para fazer com que as pessoas saibam em que apoiar-se. E se o jovem do futuro não deverá (no momento) ser instruído em nenhuma religião, poderá ser ao menos ensinado, clara e firmemente, sobre três ou quatro sanidades e certezas do pensamento humano livre. "

Postado no blog "A Furiosa"
http://afuriosa.blogspot.com/2007/12/cherterton-e-rabanadas.html]

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O CAPÍTULO 10 DA CARTA AOS ROMANOS


As igrejas batistas tem uma forma de organização bastante diferente da maioria dos outros grupos religiosos. Cada igreja batista é autônoma em relação às outras igrejas batistas, tendo como única ligação um certo corpo doutrinário em comum (que geralmente é tão pouco específico, que convivem na mesma igreja irmãos calvinistas e arminianos, pós-milenistas, amilenistas e pré-milenistas), e também algumas organizações criadas pela cooperação entre as igrejas. O governo é feito pela própria congregação (o povo pertencente à igreja), representada por um conselho ou uma diretoria, eleita por democracia direta. Todos os que recebem salários (inclusive pastores) têm seu rendimento determinado pela diretoria, que prestas contas periodicamente à congregação. Grande parte (ou a maior parte) do trabalho é voluntário, feito por pessoas comuns, que dispõem de algum tempo, e toda verba da igreja vem da própria congregação, sendo parte dela entregue, pelo povo, com finalidade específica, que obrigatoriamente deve ser respeitada pela diretoria. Entre as principais verbas “carimbadas” estão auxílio aos carentes e sustento dos missionários, seja pela própria igreja, seja por alguma associação de igrejas. Tais missionários são enviados a locais pouco evangelizados, com a finalidade de pregar o evangelho e implantar igrejas novas.
É freqüente nas igrejas batistas que o levantamento de verbas para missionários seja feito, principalmente, numa certa época do ano. Eu lembro de ter visto muitos cultos especiais, sempre na mesma época do ano, onde eram dados relatórios do trabalho dos missionários, e solicitada a contribuição do povo para o pagamento de seus salários. Eu achava interessante que, apesar de haverem muitos textos na Bíblia que falam de missionários e evangelização, geralmente o texto mais lido era o capítulo 10 da Carta de S. Paulo aos Romanos, nos versos 14 e 15. A implicação da leitura deste texto seria que não haverá salvação para as pessoas se não houver pregação do evangelho.
Bom, nada contra a pregação do evangelho, é um tema em que os autores do Segundo Testamento insistem bastante. Mas para quem lê com alguma atenção a Carta aos Romanos, está evidente que o significado dos versos citados é bastante diferente do suposto. Para expor sua argumentação, o emissário (apóstolo) Paulo usa o recurso de um debatedor fictício, que dialoga com ele, dando-lhe a oportunidade de apresentar seus argumentos como se fosse num diálogo. O argumento que ele está desenvolvendo é que grande parte do povo judeu não aceitou a mensagem de Deus. Neste ponto, o debatedor fictício coloca a possibilidade de que talvez a mensagem não lhes tenha sido apresentada, e é este o significado dos versos 14 e 15, dando a entender que não teria havido falha realmente do povo de Israel, ao que Paulo argumenta que eles ouviram sim a palavra do Eterno. Se alguém quisesse tirar algum ensino soteriológico deste texto, poderia ser perfeitamente o de que as pessoas não são condenadas se não ouvirem a palavra de Deus. Mas isto é precisamente o oposto da implicação que era dada na leitura deste texto, naquela época do ano.
Bom, mas alguém poderá argumentar que usar apenas esse texto para definir a doutrina da salvação (um termo de significado bastante amplo) na Bíblia é ir além do que se deve. É precisamente isso que quero dizer.

IMPRENSA GOLPISTA, OPOSIÇÃO GOLPISTA...



Eu estava matutando, tentando entender como é possível que a imprensa e a oposição sejam chamadas de golpistas. FHC e Artur Virgílio vão a público e assumem que aliviaram a barra do Lulla. A mesma imprensa que publicava as teoria malucas (e comprovadamente falsas) do promotor Torquemada sobre Eduardo Jorge, agora evita falar do que é publico e notório. E quando falam, dão um jeito de dizer que é um desvio do propósito santo e justo do partido governante.
Mas falava eu sobre o promotor Torquemada e sua estranha forma de fazer “justiça”. Para quem não sabe, ele apresentava “provas” contra Eduardo Jorge, as quais eram consideradas como insuficientes sequer para abrir um processo. Então ele vazava essa mesmas “provas”, já previamente julgadas insuficientes, e as revistas “isto é” da vida as publicavam. De posse das reportagens, apresentava-as, dizendo que agora a imprensa estava confirmando suas suspeitas. E abria um processo. Perseguiu durante anos uma pessoa, sem nunca provar um nada. Naquela época, para quem não se lembra, era considerado “cool” julgar os governantes sempre culpados de tudo. Até o plano Real foi considerado como apenas um truque eleitoral de curtíssima duração. Desapareceria logo após a primeira eleição de FHC.
Agora há provas saindo pelo ladrão (desculpem o trocadilho involuntário), mas a imprensa e a “oposição” só aliviam a barra. Dizem uma coisa ou outra, só para não dar muito na cara. E o burro aqui pensando, “o que será que essas pessoas querem dizer com golpista”? Bom, acho que minha burrice tem limite, e finalmente eu entendi: Se Lulla der um auto-golpe, uns 70% da imprensa e das “oposições” o apoiariam. Talvez, tergiversem, façam muxoxo, mas apoiariam. São golpistas sim, mas a favor.

OLAVO DE CARVALHO, ESSE DOIDO...

O Olavão é doido, todo mundo sabe. Não estou dizendo que ele diga, de vez em quando, algumas bobagens, isso todo mundo faz. Estou falando que ele é doido de pedra! Como sabemos disso? É muito simples, ele está o tempo todo falando de conspirações das esquerdas sul-americanas, reunidas em conjunto num fictício Foro de São Paulo (agora o maluco do presidente Lulla deu pra falar nesse tal foro também, vai ver que são amigos). Ele também fala, vejam só, de uma articulação entre as esquerdas e grandes grupos econômicos do primeiro mundo. Como se alguma revolução comunista (a russa, por exemplo) tivesse tido qualquer apoio de alguns grandes capitalistas internacionais ... que maluquice! Só mesmo aquele maluco do Soljenitsin para dizer uma coisa dessas. Bom, sabemos que pessoas que ficam falando sobre teorias conspiratórias são doidas. Até aí, estou chovendo no molhado; metade das pessoas alfabetizadas do Brasil (talvez, uns 20 milhões?), sabe das teorias conspiratórias de OC. Agora vem a bomba ...
Há um grande número de doidos no Brasil, até gente graúda, no ministério público e magistratura! Digo e provo. Vocês já ouviram falar em acusações por formação de quadrilha, envolvendo umas quarenta pessoas ligadas ao atual governo? A acusação envolve inclusive a articulação e envio de grana ilegal entre partidos de esquerda na América do Sul. Pois bem, formação de quadrilha é precisamente o nome que traduz, no sistema jurídico brasileiro, a palavra técnica inglesa que costumam traduzir por “conspiração”. Veja, o número de doidos falando de conspirações é enorme, quase todo dia há alguma notícia na imprensa sobre gente sendo acusada de formação de quadrilha. Até prendem pessoas por causa dessas teorias insanas. Vejam só que o próprio procurador geral da república caiu nessa esparrela. Não bastasse isso, aqueles magistrados do STF, de aspecto tão sério e respeitável, chegaram ao ponto de aceitar essa denuncia maluca.
Bom, agora você já sabe, toda vez que falarem em formação de quadrilha, pode responder: “deixe de lado essas teorias de conspiração, ô maluco”!!! Assim você será coerente com o conhecimento inegável de que pessoas que falam em teorias conspiratórias são sempre malucas. Ou, alternativamente, você pode também verificar se existem mesmo indícios de formação de quadrilha. Bom, vejamos: Lulla, Chavez, Evo, FARC, reunidos ... ainda mais com o apoio de esquerdistas americanos ou europeus... Não, definitivamente NÃO!! A própria reação violenta e exagerada de Lulla ao justo roubo das refinarias pelo cocaleiro já é uma prova evidente de que eles não tem nenhuma ligação. Também vemos que o governo brasileiro tem, constantemente, externado sua apreensão com as mudanças que vem ocorrendo na Venezuela. Isso para não falar na reação do PT, feroz crítico de qualquer medida autoritária de Chavez e inimigo figadal da violência das FARC, conforme elas mesmas declararam em nota à imprensa, logo após a eleição de Lulla. Quanto ao apoio de esquerdistas estrangeiros, também é um absurdo. Oliver Stone e Naomi Campbell não foram até a Venezuela, para externar seu descontentamento com Chavez? Além disso você pode ler a grande mídia americana, principalmente os jornalistas mais à esquerda, dizerem constantemente: “As FARC não são uma insurreição legítima do povo colombiano e o governo venezuelano não é nada democrático”. E sempre vemos o Jimmy Carter, batendo forte no governo cubano e nos governos esquerdistas sul-americanos. Também é conhecimento corrente que igrejas e organizações de esquerda européias boicotam sistematicamente os movimentos sociais de esquerda sul-americanos. Pronto, está provado, essas teorias conspiratórias são uma maluquice.
Mas mesmo que acreditássemos na realidade da articulação entre os esquerdistas das Américas e as FARC, ainda assim não se poderia falar de formação de quadrilha ou associação para o crime. Novamente, digo e provo: As FARC são, reconhecidamente, sociedades beneméritas, que auxiliam grandemente os povos das Américas. Suprem uma necessidade vital, a cocaína e o crack, tão importantes para a melhoria da percepção interior de nossa juventude. Ajudam também os nossos garotos a terem uma vida mais plena e livre. Garotos que levariam uma vida chata, sem emoções, correm de arma em punho, num ballet de saltos sobre os morros, jogando uma forma muito mais realista de paint-ball. Só no Brasil, são mais de 50.000 baixas ao ano, o que revela o gosto de nossos garotos pela coisa. Na Colômbia, essas organizações políticas legitimas, que contam com o apoio maciço de 3% da população (certamente contando entre esses as importantes classes de plantadores de coca, mulas, bandidos comuns e outros grupos de vanguarda da sociedade), são coibidas de forma inexplicável por um governo ilegítimo que detêm, vejam só apenas uns 80% de apoio popular, tendo sido eleito pelas ilegítimas regras da democracia burguesa (argh!). Em sua sanha criminosa, esse governo prendeu inúmeros membros de tal sociedade benemérita, de forma totalmente arbitrária, apenas por eles terem praticado irregularidade legais. Diferentemente, os membros das FARC têm a gentileza de não fazerem reféns entre os soldados e policiais...
Mas a bondade das FARC não acaba aí: fazem um importante trabalho de ensino, arriscando-se ao levar os seus alunos, adultos e crianças, à selva mesmo contra a vontade deles (não é culpa dos guerrilheiros se há pessoas que recusam-se a ir voluntariamente). Ensinam crianças desde pequenas a torturar, desmembrar e matar seus próprios amiguinhos, o que é uma importante atividade educacional. Depois permitem que as crianças sobreviventes participem da nobre missão de matar mais pessoas.
Provei portanto que, mesmo que houvesse alguma verdade nas estapafúrdias afirmações de articulação entre partidos de esquerda e guerrilheiros, não pode haver nenhum crime em ajudar pessoas tão beneméritas.
Portanto deduzo que aqueles que falam desse tal Foro de São Paulo são uns malucos e aqueles jornalistas que defendem, aberta ou veladamente, a honra das FARC não são doidos, de forma alguma!
Nem calhordas!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Proposta de blogagem coletiva

Propus ao Blogildo uma blogagem coletiva. Cada um escreveria seu texto, comparando Judas, esse petralha da antiguidade, com os petralhas atuais, em qualquer país do mundo. Um bom texto para citar seria este, em que a irmã de Lázaro unge os pés de Jesus (Evangelho segundo S. João, capítulo 12):

2 Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
3 Então Maria, tomando um arrátel de ungüento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento.
4 Então, um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, filho de Simão, o que havia de traí-lo, disse: 5 Por que não se vendeu este ungüento por trezentos dinheiros e não se deu aos pobres?
6 Ora, ele disse isto, não pelo cuidado que tivesse dos pobres, mas porque era ladrão e tinha a bolsa, e tirava o que ali se lançava.7 Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; 8 porque os pobres sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.

No dia da malhação de Judas, malhemos os seus sucessores...

PS.: Talvez eu não tenha sido muito claro num aspecto. Quando falo da atitude petralha de Judas, não falo apenas de fazer um discurso de defesa dos pobres com a intenção de roubar. Falo de usar a ideologia com objetivo de fazer o mal, qualquer que seja ele. Mas do que isto, falo de defender uma ideologia que parece bonita à primeira vista, mas que carrega em sí a justificação do mal sem limites.

Aquecimento global

Tirando as máscaras...

http://ceticismo.wordpress.com/2007/10/16/uma-verdade-inconveniente-sobre-o-aquecimento-global/

domingo, 20 de janeiro de 2008

Margaridas

Ivânia

A MENTE DO LEITOR DA BÍBLIA

Romancistas e roteiristas que escrevem com base em histórias bíblicas, freqüentemente são obrigados a acrescentar muita ficção às suas obras. O estilo da maioria dos escritos antigos, incluindo os livros que compõem a Bíblia, é bastante conciso, quase taquigráfico, deixando a curiosidade dos leitores insatisfeita. Na Bíblia, que é a literatura antiga mais conhecida, vemos evangelistas narrando discursos ou debates que devem ter durado horas, mas cujo resumo, escrito por eles, pode ser lido em minutos, ou em segundos. Muito da vida de Paulo, o emissário, que compõem grande parte do livro dos Atos dos Emissários (apóstolos), é narrada em relativamente poucas páginas, deixando muita informação por dizer (embora algo se possa deduzir pelo confronto entre os livros da Bíblia, completando informações, e corrigindo falsas impressões causadas pela leitura de um único texto). Na Torah, a concisão chega a tal ponto, que as gerações de israelitas que viveram no Egito, por mais de quatrocentos anos, são reduzidas a menos de meia dúzia de gerações, levando-nos a supor que, ou eram extremamente longevos, ou o narrador simplesmente cortou das genealogias grande parte das pessoas, por critérios que ele simplesmente não diz.

Por outro lado, há uma abundância de informações detalhadas, muitas vezes repetitivas, levando o leitor ocidental a se perguntar, para que serve saber quanto media ou pesava cada presente de cada um dos príncipes de Israel para o tabernáculo, em certa ocasião, sendo os presentes de todos os príncipes exatamente iguais (devem ter combinado, para não haver uma inapropriada competição). Por que tantas genealogias, com nomes de pessoas que, geralmente, não são citadas na narrativa principal? Por que a extrema concisão da narrativa de Atos é substituída de repente por detalhes minuciosos de um naufrágio, com descrições precisas de ventos, técnicas de navegação e controle do navio? Outros naufrágios de Paulo nem são citados no livro.

Creio que O Eterno fez com que a Bíblia fosse escrita exatamente do jeito que Ele queria, embora seus motivos sejam ocultos para nós.

Mas, voltando aos romancistas e roteiristas, estes trabalham com uma linguagem que exige mais detalhes, os quais são inventados tentando não contrariar os dados reais da história bíblica, da história israelita e da de outros povos. Os inúmeros erros nessas tentativas mostram o quanto nossos escritores são ignorantes a respeito. Às vezes, o motivo da falha em adequar o texto fictício às informações bíblicas não vem apenas da ignorância do escritor atual. Há algo interno à própria mente do romancista.

A nossa mente funciona de forma estranha, não trabalhando apenas com dados reais, mas substituindo-os, no passar do tempo, por esquemas que de certa forma os resumem os dados percebidos pelos sentidos, e anexam-nos a outros esquemas mais gerais. Esta forma de funcionar permite à mente humana uma capacidade de entendimento e previsão muito maior do que seria possível de outra forma. Não fosse ela assim, provavelmente não teríamos hoje uma mínima fração da ciência, técnica, história e cultura, que temos. Talvez nem fôssemos viáveis, sem entender o mundo, sem aprender a generalizar idéias, destruídos pelos elementos da natureza.

Por outro lado, esta forma de funcionamento da nossa mente tem efeitos colaterais que podem ser prejudiciais se não estivermos atentos a eles. A busca pela generalização, tão útil, pode levar nossa mente a “inventar” informações, cortar da memória dados essenciais, distorcer o mundo. Muitos sabem a respeito de bêbados e drogados, que, esquecendo as informações verdadeiras, inventam estórias falsas, nas quais eles próprios acreditam. Mas isto acontece também com gente sóbria. Fatos de nossa história pessoal são alterados, principalmente de nossa primeira infância. Ao vermos posteriormente o ambiente em que fomos criados, ou ouvirmos de pessoas mais velhas a narrativa de algum fato que presenciamos quando pequenos, percebemos que algo foi mudado em nossa lembrança.

Psicólogos que estudam o comportamento de testemunhas em inquéritos policiais, conhecem casos de pessoas que, sofrendo ou testemunhando um ato de agressão, sob condições de luz ruim, ou de forma muito rápida, examinam na delegacia um livro com fotos de criminosos. Às vezes, pelas características do crime, o policial supõe saber qual criminoso o executou, insistindo com a testemunha a respeito da foto daquele criminoso. Neste caso, às vezes acontece da testemunha inserir a imagem daquele criminoso em sua memória, e passar a “lembrar” daquela pessoa que, como se descobre depois, não poderia ter estado lá. A busca de coerência para as informações, pode nos levar a crer em mentiras. Se levarmos em conta também o efeito de nossos traumas e loucuras, o efeito sobre nossa percepção geral pode ser devastador.

Isto acontece também com nossa percepção da Bíblia. Temos idéias prontas a respeito de teologia, comportamento humano, sociologia. Buscamos coerência em nosso conhecimento bíblico, e dele em relação aos nossos outros “conhecimentos” (muito deles carregados de erros e preconceitos) e muitas informações do texto parecem simplesmente não encaixar-se. Uma pesquisa nas línguas originais, com ajuda de algum especialista, ou a leitura de análises histórico-gramaticais pode ajudar. Penso que todos aqueles que trabalham com o texto bíblico, sejam pastores, teólogos, especialistas, ajudariam muito mais a nós, leigos, se procurassem imergir na cultura da época, ler em abundância textos outros da mesma época e local, ou pelo menos tão próximos quanto possível, se estiverem disponíveis. Dizia C. S. Lewis que, se alguém só se dedica ao texto bíblico, sua análise dele não será tão boa. Sobre isto, talvez uma ótima recomendação seja a leitura cuidadosa de textos judaicos contemporâneos, e artigos sobre eles.

Pretendo escrever uma série de textos, comparando o que muitas pessoas geralmente entendem do texto bíblico, com as próprias informações bíblicas. Sou um leigo. Não espero que alguém forme opinião pela leitura de algum dos meus textos. Mas aqueles que acharem que há algo de relevante em algo que escrevo, farão sua análise mais profunda, comparando com outras fontes, de forma a, talvez, melhorar sua própria compreensão do texto bíblico.



PS: Por acaso, Olavo de Carvalho escreveu, recentemente, um excelente texto sobre a leitura da Bíblia:

http://www.olavodecarvalho.org/semana/080117jb.html

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Confissões de um ex-abortista

Como mudar radicalmente a sociedade, em pouco tempo? Com muita mentira.

http://www.icrvb.com/conteudo.php?id=694

TABAGISMO

“...repreende o sábio, e ele te amará.” Provérbios 9:8. Sagradas escrituras

O filósofo Olavo de Carvalho expressou mais uma vez, no seu último talk show, uma opinião a respeito do cigarro, baseada em uma interpretação ruim das estatísticas. Conforme sua opinião, o cigarro seria inócuo (isto é, não abreviaria a vida), visto que a idade média de óbito dos fumantes é igual à da população em geral, nos EUA. Este resultado estatístico tem tido pouca publicidade, a não ser em publicações especializadas, o que levou Olavo a concluir que se pretende ocultar da população que o cigarro não causa dano à saúde. Ele argumentou também através de exemplos de pessoas fumante e longevas. Eu poderia citar exemplos de pessoas que ficaram muito doentes por causa do cigarro, inclusive uma pessoa que visitei a poucos dias. O melhor ataque à questão é realmente pelo estudo estatístico, e nesse campo, Olavo erra. Seu erro é explicável, e a maioria dos leigos na ciência estatística o cometeria.

Tal resultado estatístico seria assim corretamente interpretado se o único vício existente fosse o tabagismo. Mas há muitos outros vícios, os quais diminuem a expectativa de vida média do povo. Tais vícios, como crack, cocaína, maconha, etc, são muito mais nocivos à saúde do que o tabaco, causando uma diminuição muito maior da expectativa de vida. Para decidir se o cigarro diminui a expectativa de vida ou não, a população de fumantes (sem outros vícios químicos) deve ser comparada à população das pessoas sem vícios químicos. Além disso, a medicina atual pode atuar para diminuir os resultados negativos do tabagismo, de forma muito mais eficaz do que há anos atrás. Por exemplo, uma pessoa que morreriam aos 60 anos, de câncer, pode ter sua expectativa de vida estendida por tratamentos modernos.

Há mais uma questão. Por algum motivo, algumas drogas parecem se atrair, e outras se excluem. Normalmente o tabagista gosta muito de café. Entretanto, quer por motivos químicos, quer por motivos sociais, o usuário de tabagista normalmente não usa certas drogas muito comuns e bastante danosas.

Essas drogas mais fortes, além do prejuízo direto à saúde, estão frequentemente associadas a um estilo de vida insalubre e perigoso, que abrevia muito a vida de grande parte dos seus usuários. Em relação a tais pessoas, um tabagista “careta”, trabalhador e de estilo mais familiar, tem uma expectativa de vida muito maior. Olavo de Carvalho vê, na publicação incompleta das pesquisas, uma intenção de ocultação. Talvez o que se pretenda ocultar é que as drogas fortes e bastante difundidas que se intenta liberar, são tão mais danosas que o tabaco que a população tabagista “puxa” a expectativa de vida para cima. Seria interessante ver uma pesquisa estatística completa, que comparasse a população sem vícios químicos com aquelas sob os efeitos das diversas drogas sozinhas e em interação, bem como as compatibilidades e incompatibilidades entre as drogas.

Também observou OC que alguns grupos “politicamente corretos” que se opõe fortemente ao tabagismo, fazem forte campanha pela descriminalização de outras drogas, muito mais danosas. Talvez tais grupos tenham identificado alguma incompatibilidade química entre o tabaco e alguma droga que eles queiram popularizar (ainda mais). Alguém poderia pensar que, neste caso, o tabaco teria um efeito profilático e, portanto, valeria a pena para o tabagista continuar fumando. Mas isto não é verdade. Ex-tabagistas não costumam adquirir outro vício químico.

Mas concordo com o ponto principal do argumento de Olavo de Carvalho. É muito estranha a intensa campanha anti-tabaco, acompanhada de uma forte pressão para liberação de todas as drogas. Qual a justificativa para coibir legalmente uma droga com efeitos sociais tão limitados como o cigarro? O tabagista não fica alterado, não comete violência, não pratica crimes, não fica com a mente EMBOTADA.

Respondendo a um amigo II

“...repreende o sábio, e ele te amará.” Provérbios 9:8. Sagradas escrituras


Um amigo perguntou a minha opinião sobre uns filmes a respeito de Apocalípse, acho que baseados em livros de Tim LaHaye. São uma série de filmes, que estão nas locadoras, dos quais eu assisti um. Não gostei muito, mas não é essa a questão que quero discutir. Meu amigo expressou a seguinte opinião: A literatura judaica anterior ao apocalipse continha vários outros livros semelhantes. Era um gênero literário. A conclusão a que ele chegou (com a qual concorda muita gente), é que o livro de Apocalipse não tem a intenção de conter uma profecia sobre a ordem cronologica de acontecimentos futuros, mas é apenas um texto escrito com a intenção de incentivar e consolar cristãos que viviam uma situação de perigo e angustia. Não respondi nada, na hora. Mas pensei sobre o assunto depois, embora não conversado com ele sobre esse assunto novamente, pois esse não é um assunto pra se falar em uma conversa ligeira. Não concordo com a conclusão, por dois motivos:


Quem imitou quem?

Apocalipse parece-se muito com certos trechos dos profetas, principalmente Daniel. Da mesma forma, a literatura “apocalíptica” anterior. A explicação para existir tal literatura não é difícil. Sempre existiram profetas em Israel, em número muito maior do que aqueles que integram nosso Canon. Aqueles cujas profecias não foram preservadas no Canon podem ter tido parte de suas palavras proféticas reais preservadas em livros diversos (como o livro de Enoque), que embora não fossem inspirados, poderiam conter trechos reais de profecias. Ao lado disso, sempre houve uma tradição de falsos profetas em Israel, gente que gostaria de ter o seu nome prestigiado com o “título” de profeta. De qualquer forma, depois disso houve uma ampla tradição de livros cujos autores os atribuiam a patriarcas e profetas, para emprestar maior “autoridade” ao seu conteúdo. A falsa atribuição de autoria foi amplamente usada por seitas marginais, primeiro entre judeus, e depois entre cristãos, para obter aprovação para peculiaridades proféticas e exegéticas, que de outra maneira não obteriam atenção nenhuma do público alvo. Dentro desse ambiente, é muito natural que houvessem livros que procurassem imitar profetas tão sábios e respeitados como Daniel e Ezequiel, com suas imagens proféticas tão vívidas e chamativas.
Mas para quem crê que João teve sobre si o mesmo Espírito de profecia que Daniel, e que teve a mesma missão de prever os tempos numa cronologia ampla, não é estranho que seus escritos parecessem com os trechos proféticos de Daniel.


Não parece uma boa maneira de confortar as pessoas

Comprido, hermético e violento demais. Assim parece Apocalipse. Não é o tipo de literatura que a maioria das pessoas leria com o objetivo de se sentirem confortadas. Para dizer que o Bem vencerá no final, João poderia ter escrito algo mais simples e breve, como por exemplo... algo assim: “o Bem vencerá no final”. Claro que poderia ter alguns floreios, mas algo bastante zen, tranqüilo. Mas alguns supõe que para cumprir esse objetivo ele inventou uma estória comprida, cheia de voltas, com gente morrendo pra todo lado, um monte de figuras bem imaginativas e terríveis, que não querem dizer absolutamente nada (ou significam verdades genéricas e comuns), excitando a imaginação das pessoas, de forma que elas suponham que suas figuras tem algum significado especial. Para mim, não faz sentido algum que tenha sido assim. Faz sentido que João tenha sido um verdadeiro profeta. Faz sentido que tenha sido um velho maluco. Mas não faz sentido um Apocalípse como figura genérica da “luta entre o bem e o mal”.

Respondendo a um amigo

“...repreende o sábio, e ele te amará.” Provérbios 9:8. Sagradas escrituras
Conversando com um amigo meu sobre a situação da nação de Israel diante do Eterno, concordamos no fato de que ele não pode ter sido rejeitado. Se não fosse por outro motivo, pelo que o apóstolo Paulo diz no capítulo 11 de sua Carta aos Romanos, em particular no verso 29. Mas, mesmo tendo a mesma opinião que eu, ele questionou “como Deus pode ter 2 esposas?” (Israel e a Igreja).
Na hora não pensei em nenhuma resposta. Mas, refletindo melhor, me ocorreu o seguinte: Deus não tem nenhuma esposa, no sentido denotativo da palavra. Matrimônio é uma instituição para homens. Quanto à relação entre o Eterno e os seres humanos, há muitas figuras para descreve-la, e sendo figuras, não tem, como não precisariam ter, coerência total. A Igreja é descrita como sendo o corpo de Cristo, mas é descrita também como sua esposa, o que não tem nenhuma coerência. Na verdade, alguém que usasse a figura da Igreja como esposa de Cristo, poderia chegar à conclusão de que ela é nora de Deus, para ser coerente com a figura de Cristo como filho de Deus. Em suas parábolas, Cristo se compara com o pastor de ovelhas, mas se compara também com a porta. Compara-se até com a galinha, numa figura de linguagem em que os habitantes de Jerusalém seriam pintinhos. E nos profetas, lemos Israel comparado a um servo de Deus, a uma esposa de Deus, a um filho de Deus. Resumindo, figuras são figuras, ninguém deveria se preocupar com elas o suficiente para construir alguma teologia em função da busca da sua coerência.
Por falar nisso, na própria Bíblia um profeta usou a figura de duas esposas para Deus, referindo-se aos reinos de Judá e Israel, duas mulheres irmãs, esposas do mesmo marido. Mas outros profetas descrevem a nação israelita TODA como sendo a esposa de Deus. Aparentemente os profetas não se sentiam nem um pouco constrangidos em usar as figuras incoerentes, das quais o meu amigo procura fugir.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Por que motivo o nazismo e o facismo são chamados de extrema direita?

http://pt.danielpipes.org/article/5370

http://www.diegocasagrande.com.br/index.php?do=Wm14aGRtOXlKVE5FWVhKMGFXZHZjeVV5Tm1sa0pUTkVNemc0TVRSTFFRPT1aeFAySg==

PS: No primeiro artigo, liberalismo tem um significado diferente do mais comumente usado no Brasil.

Sabra e Chatila

Muito mais complicado do que a mídia gostaria que você acreditasse:

http://www.deolhonamidia.org.br/Publicacoes/mostraPublicacao.asp?tID=256

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Motor elétrico rotativo em seres vivos!!!

Sempre pensei que não poderiam existir sistemas motores rotativos em seres vivos. É impressionante. Vejam os vídeos, são muito interessantes.

http://designinteligente.blogspot.com/2007/09/flagelo-bacteriano.html

Nova epidemia

Grave epidemia de Staphylococcus aureus resistente à meticilina começa na região de São Francisco. Por enquanto, está restrita à comunidade gay, mas inevitavelmente alcançará o restante da população. Transmitida não só por contato sexual, mas também através de objetos.

http://br.noticias.yahoo.com/s/reuters/080115/mundo/mundo_geral_bacteria_gays_pol

http://juliosevero.blogspot.com/2008/01/estudo-bactria-mortal-est-atingindo.html

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Conhecendo melhor Philip Yancey

A maioria dos fãs e leitores de Philip Yancey conhece-o menos do que imagina. Há um tempo atrás, tentei ler um de seus livros, mas não consegui chegar até o fim. Achei seu estilo um pouco enrolado. Agora entendo melhor o motivo. Dois comentários, de Norma Braga e Júlio Severo, a respeito de Yancey:

http://normabraga.blogspot.com/2008/01/philip-yancey-entre-muros.html

http://juliosevero.blogspot.com/2008/01/estranha-graa-philip-yancey-e-o.html

sábado, 12 de janeiro de 2008

AFINAL, QUEM ERA JUDAS ISCARIOTES?

O texto bíblico descreve Judas Iscariotes como uma pessoa egoísta, avaro no sentido original do termo, isto é excessivamente preocupado consigo mesmo. O contrário de generoso, no sentido original do termo, isto é preocupado com coisas mais amplas do que a sua própria pessoa. Da mesma forma são descritos muitos dos fariseus e escribas, e igualmente os saduceus, o partido do alto clero, ao qual pertenciam os mais altos sacerdotes (não os sacerdotes comuns). Mesmo fora da Bíblia, vemos parte dos zelotes (aqueles que dominaram Jerusalém antes da sua queda) sendo descritos pelo historiador judeu Flávio Josefo, como pessoas de má índole, que desprezavam o respeito ao próximo e à Lei do Senhor, egoístas e violentos.

Muitos autores atuais, ao serem confrontados com estas descrições, tem dificuldade em aceita-las. O ponto que une, pelo menos supostamente, estas personagens é seu patriotismo, seu suposto ideal de liberdade do povo, oprimido sob os romanos. Libertários, afirmadores da identidade do povo, revolucionários que desprezam sua própria segurança em razão da identidade nacional e da luta contra a opressão, dizem estes autores. Qualquer descrição que contrarie esta avaliação deve ser um erro ou, talvez, uma fraude. E lá vão os que estão longe e menos informados sobre o contexto, dizerem que vêem melhor do que os que estavam perto.

Falarei primeiro de Judas Iscariotes. Não há informações objetivas, de fontes confiáveis, que confirmem o seu caráter de “revolucionário que visava a libertação do povo de Israel”. Muitos dos que querem fazer crer assim, atribuem também a Yeshua (Jesus), pelo menos no inicio, este objetivo político. Novamente não há nada nas fontes mais antigas que prove isto. Estas afirmações são feitas simplesmente por que os leitores atuais querem formar um quadro da época que se encaixe nos seus esquemas de pensamento. Uma única palavra, para estes, que possa ser usada de forma a significar um Jesus revolucionário, pesa mais que um livro de informações em contrário. Para estes leitores, é mais fácil descrer do testemunho dos antigos do que de seus próprios esquemas mentais. Céticos dos outros, jamais de si mesmos.

Mas vamos supor, apesar de não provado, que o suposto caráter revolucionário de Judas seja verdade. Muitos leitores, ainda na busca de organicidade do próprio pensamento, deduzem daí que a um elemento de generosidade em Judas que não pode combinar de forma alguma com a mesquinharia de receber uma bagatela como preço de uma traição absurda. Da mesma forma, só podem ver uma generosidade fundamental nos religiosos judeus que condenaram o Ungido, pois que tipo de gente se não um generoso lutaria contra a opressão da cultura alienígena? Igualmente todos os zelotes, movidos por ideais os mais altos, liberdade e justiça, seriam a encarnação da generosidade. Todos os citados, ainda que possam ter sido enganados pela aparência, e agido inconscientemente de forma injusta, não podem ter negado o seu direito de serem reconhecidos como pessoas fundamentalmente generosas.

Será?

Examinemos a hipótese de que todo aquele que luta contra um poder maior, ou pensa que luta contra um poder maior (ou assim quer fazem crer), é um generoso. Isto é sempre verdade? Egoísmo, soberba, orgulho, inveja, o ódio por um amor perdido, a lembrança reprimida de um abuso sofrido quando criança, o desejo de aparecer bem perante uma mulher, perante os seus pares, a fuga de uma consciência culpada, a paranóia, a psicopatia, nada disso pode ser o motor da luta? Apenas subsidiariamente, ou talvez como motor principal em poucos casos, dirão alguns.

Será?

Que nos diz a história da luta pela “libertação”? Mais de uma centena de milhões de mortos pela luta por um mundo melhor, só no último século? Quanta injustiça em nome da justiça? Quanta escravidão em nome da liberdade? Quase toda a luta “libertária” acabou sendo um erro. Engano bem intencionado?

Ou fraude?

Tanto mal pode nascer da boa fé? Ou será que a maldade já estava na semente, oculta sob uma capa de boas intenções? A criação de uma burocracia poderosa e controladora, a destruição da liberdade, campos de concentração, tribunais fajutos, genocídios, tudo isto já foi feito em larga escala por quase todos os “libertadores” modernos.

Qual a personalidade de praticamente todos os líderes revolucionários, ativistas, apoiadores? Freqüentemente começam na adolescência. Mas falemos aqui do que entendemos como adolescência. Viajando por lugares do interior, os adolescentes que vejo são pessoas fundamentalmente doces, espantadas ainda com realidades novas que estão conhecendo, alegres, mas às vezes um tanto introspectivos. A maioria dos adolescentes que vejo, principalmente fora do fluxo principal da cultura da mídia, não se encaixam de modo algum no estereótipo do “típico” adolescente pregado pela mídia, aquele que dizem ser o adolescente “normal”, uma pessoa extremamente soberba e arrogante, suposto possuidor de conhecimentos que outros não podem alcançar, membro de uma raça de refundadores da humanidade. Este, um doente, uma criança mimada, é dito o adolescente “certo”, o “verdadeiro”, até mesmo o “compatível com o estado normal do desenvolvimento biológico do ser humano”, mesmo se não for maioria, mesmo se algumas de suas características consideradas mais “típicas” forem fortemente culturais, pouco marcantes em outras épocas ou outras culturas. Pois bem, este estado de soberba personificada, elevada à suposta essência do que é a adolescência, é realmente a própria essência da “personalidade revolucionária” típica (não falo de lideres nativistas de séculos passados, cujo principal interesse era, normalmente, a construção realista de uma nação, não a “implantação de uma utopia”, contradição em termos). Se há uma essência de soberba na mente de tantos “libertadores” (leia suas biografias), não será esta a raiz daquilo que muitos crêem ser uma degenerescência posterior dos “movimentos libertários”, mas que na verdade se manifesta desde o início? Uma raiz de auto-gratificação doentia, de avareza, portanto, naquilo que é anunciado como generosidade. Como a “generosidade” de Ananias e Safira, aparência, hipocrisia (e eles realmente haviam decidido dar do seu patrimônio, da sua luta, sem que nada os obrigasse a isto).

Olhe a sua volta. O leitor não vê isto? Quão freqüentemente você vê pessoas que foram celebradas em verso e prosa como inimigos da ditadura, da corrupção, da vaidade, do engodo contra o povo, se mostrarem os maiores amigos da ditadura, corrupção, vaidade e engodo?

Voltemos aos grupos citados inicialmente, nos quais talvez o leitor não consiga enxergar a avareza e mesquinhez, citados pela Bíblia e por Flávio Josefo. Luta contra um poder externo, defesa da identidade de uma minoria, não são provas de generosidade. Talvez muitos queiram absolver Judas porque, imaginando ver nele um “crítico do sistema”, desejam absolverem a si mesmos. Basta ser um “crítico do sistema” e você terá a sua própria “generosidade” comprovada, não importa se você na prática age com egoísmo em relação ao seu próximo. Mas, que importa? Talvez até mesmo você seja usado como massa de manobra de movimentos que você realmente não entende, cujos objetivos explícitos parecem tão nobres e, portanto, você é um iluminado, um ser superior. Até que o Ungido se manifeste novamente e revele o que há no seu coração. Espero que isto aconteça agora, para o seu arrependimento, e não na Eternidade, para sua vergonha eterna.


Haverá, segundo diz a Bíblia, um dia em que o avarento não poderá mais ser chamado de generoso. Temo que a maioria dos “generosos”, “libertários”, “defensores da justiça”, de hoje em dia, não poderiam sobreviver a tal situação.